quarta-feira, 25 de julho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Prólogo


Eu odeio a guerra



Texto enviado em partes ao Conselho de Nopporn no terceiro milênio do calendário dos Senhores de Castelo, datando de alguns anos depois da grande batalha sombria.

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Primeiro fragmento: “Já fui rei, já tive nações ao meu comando, já enfrentei inimigos miseráveis, cruéis e perturbados... e vi pessoas morrendo por mim. Eu me odeio por isso, não pude fazer nada para salvá-los...”

“Quando perdi tudo e acordei para a realidade, me vi desejando que um simples pedaço de terra fosse o suficiente para gerar comida para toda uma nação...”

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Segundo fragmento: “Meu planeta possui uma rota nos mares boreais que qualquer grande império desejaria ter ao seu comando, uma rota de comércio precioso que só gera perturbações e guerra atrás de guerra, batalha atrás de batalha. Não me lembro de um único ano de meu reinado onde os rios vermelhos e a chuva de cadáveres não tenham se feito presente no cotidiano de meu amado povo.”

“Numa batalha derradeira, meu reino foi tomado pela Irmandade Cósmica... Vi meus principais súditos serem queimados nessa maldita luz cósmica que eles dizem purificar o espírito, libertando a alma de todos os pecados que se cometeu. Eu não acredito nisso...”

 “Passados alguns anos perambulando pelas vastas terras, após ter escapado da Irmandade, tentei me estabelecer em um pequeno povoado que fica longe dos portões boreais e que antigamente o meu exército evitava a todo custo que participasse das matanças irracionais que os planetas vizinhos insistiam em ter para com o nosso humilde lar. Eles viviam felizes, me alegrei por algum tempo com isso. Dava até para sentir que a vida valia à pena. Trabalhei no campo, senti o poder vital que a terra tinha. Era como se ela estivesse viva! Os anciões do povoado gostaram de mim e me ensinaram o poder da maru, o poder de estar conectado com a alma de tudo, a energia que faz tudo existir e que sempre usaram para manter as colheitas perfeitas. Não sei se o poder respondeu ao meu sangue real, ou a minha vontade de livrar todo o meu povo das mãos da Irmandade Cósmica, só sei que eles me disseram que eu poderia ser o escolhido e que nunca viram tamanha conexão com o plano transversal. Eu podia ver os elementais com clareza... Foi aí que o vento trouxe aos meus ouvidos a desconcertante notícia de que as minhas crianças estavam sendo objeto de experiências medonhas.”

“Não havia como ficar parado, eu tinha que enfrentar a Irmandade Cósmica de um jeito ou de outro, eles não podiam continuar a abusar da natureza e das pessoas como se tudo o que fizessem estivesse simplesmente certo. Orei para a alma do mundo e pedi-lhe que me ajudasse a livrar o planeta dessa raça de hereges que enganam o multiverso com a sua falsa verdade. Eu tentei...”

“De alguma forma os malditos fizeram o inimaginável, eu estava lá, lutando bravamente para chegar o mais perto que podia do Grande Irmão que lidera a seita e, quando percebi, ele apenas me tocou com um único dedo e pude ver o meu próprio corpo cair no chão, inerte... Eles arrancaram a minha alma do lugar!”

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Terceiro fragmento: “Eu não sei como ainda posso estar consciente e continuar a escrever esta mensagem... Espero que este novo grupo especial de combate chamado de Senhores de Castelo de que ouvir falar possa um dia salvar o meu pequeno planeta, a minha terra natal.”

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 Quarto fragmento: “Passado alguns anos, eu os vi construírem grandes prédios que subiam até o céu e a formarem zonas infindáveis de lixo que as suas cidades iam produzindo, deixando do lado de fora os classificados como descartáveis. No centro da antiga capital de meu reino, onde ficava meu lindo castelo, eles ergueram três cidades, a de baixo – com prédios pequenos de até trezentos metros; a de cima – que possuía mais de mil e quinhentos metros de altura e no topo dos edifícios uma grande plataforma que os unia, formando uma cidade completamente diferente da inferior; e por fim a indescritível Cidade Aérea – tudo que sei é que ela possui uma coluna como base, ela é tão alta que as nuvens impedem qualquer um de enxergá-la. Com isso, em apenas alguns anos, as construções mirabolantes dominaram tudo e a natureza, antes tão vivaz e que iluminava as minhas manhãs com algum alento, estava completamente morta.”

“Percebi que a Irmandade Cósmica tomara de assalto um planeta próximo que era habitado por robôs, conhecidos como a Legião Parafuso. Originalmente sua programação permitia conviver com qualquer ser vivo e extrair matéria-prima de qualquer lugar sem prejudicar ninguém, esperando o tempo certo das podas. Coletavam minerais sem modificar a paisagem, tudo em perfeita harmonia com o meio ambiente. Agora eles são escravos usados para matar os intrusos e dissecar completamente os recursos naturais do planeta. Só os deuses sabem o quanto a Irmandade Cósmica é ruim...”

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Quinto fragmento: “Soube que a Ordem dos Senhores de Castelo mapeou parte do multiverso e que definia os planetas conforme a magia, a tecnologia e outros aspectos de desenvolvimento. Creio que o meu planeta era do primeiro quadrante enquanto eu reinava, despontando alguma influência mágica. Sob o poder opressivo da Irmandade, ele com certeza tornou-se uma potência do quarto quadrante. O poder bélico impede que nave alguma entre na orbita do planeta sem ser identificada, pois será sumariamente abatida se prosseguir sem maiores explicações. Meu mundo está fechado para visitas...”

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Sexto fragmento: “Ouvi dizer que os Senhores de Castelo expulsaram a Irmandade Cósmica de alguns planetas, espero que um dia eles possam vencer a maldita Luz Cósmica que corrompe os corações do meu amado povo.”

“Por favor, se alguém estiver lendo estas mensagens, avise os Senhores de Castelo, meu mundo precisa de ajuda...”

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A data que o texto indicava de quando fora feito era do ano quarenta e sete do mesmo calendário castelar...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Em breve! Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim

      É com muito prazer que anuncio que o lançamento da primeira parte da nova fanzine desde autor que vos se apresenta esta confirmada! Contando uma nova história sobre os Senhores de Castelo! Heheh, eu não sei como, mas as histórias sempre tomam o caminho que querem! Diferente do apresentado pelos autores originais do livro de Crônicas dos Senhores de Castelo (que já lançaram o segundo livro da série, uhuh!), esta história é mais cyberpunk, contando a história da missão secreta de seis Senhores de Castelo para salvar a população do planeta sem nome, que é dominado pela Irmandade Cósmica e completamente devastado pela extração de seus recursos naturais, sendo largamente utilizado como depósito de lixo e núcleo industrial. Posso não prometer muito, gostar da história depende sempre dos leitores, mas acredito que vocês não ficarão indiferentes com as preocupações apresentadas na história - nosso mundo esconde, em algum lugar, coisas que vocês meramente imaginam...
      Acompanhem comigo esta história, não deixem de comentar, você poderá mudar o rumo dos acontecimento e ajudar os personagens a sobreviver a inumanidade da Luz Cósmica!
     Em breve, aqui, neste blog: O Filho do Fim. Não percam!


A Cidade Baixa
Um dos cenários do 'Filho do Fim'.
Quem vê esta imagem, não imagina de onde ela vem...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Gatos, gatos e mais gatos! III

     Continuando mais uma vez com estas imagens maravigatas que encontro nas redes sociais e que acrecento um pouco de humor da Toca dos Gatos para completar o divertimento. Quer mais? Vem pro meu face! :)





025 – WTF! O.O Gurei, te acharam! -_-'





026 – Gurei ou Sasha... eis a questão... -_-'






027 – Viu no que dá ficar bebendo com o Sasha?! -_-'






028 – Akai, o que aconteceu, eu filho? ç.ç





029 – Neko, resumo de beleza e estilo! -_- Sim, sim...
Obs.: Esse é o Dark. :)



030 – Nekos... Como não amá-los? ^^






031 – Eu disse pra você que o Sasha podia ajudar Gurei... -_-'




032 – Claro que é, neko do kokoro... ^^'
(Gurei, vc colocou aquilo direitinho? ¬¬ )






033 – É assim mesmo que o Gurei faz quando Lady Neko olha pra ele... -_-'






034 – Menino sai daí! Senão, Akai, eu não deixo mais vc usar o pc! -_-'

terça-feira, 17 de julho de 2012

Devil's Drink 20 - A Caixa


A Caixa



            Um marceneiro. Um homem de vinte e poucos anos que mal sabe manipular as grandes máquinas cortadoras, mas que aprendeu a fazer algumas coisas com a madeira encontrada na rua, que qualquer um acha melhor descartar por não ter mais utilidade e que ele simplesmente as torna útil de novo. Fazer caixas é o que ele mais faz. Não que ele goste, é o que os outros, os familiares pedem que ele faça... de graça. Ele não sabe se eles vão pagar ou não, se um dia ele poderá fazer as caixas de maneira menos tosca, o que ele sabe é que, mesmo sendo um escritor e adorar livros, literatura, fantasia, quadrinhos... Ele faz caixas. O senso de realidade se perdeu.

            Na cabeça do marceneiro, ele tinha a preocupação do que por em uma daquelas caixas que ele havia feito para outra pessoa e que ficara para ele pela caixa ter estrago no meio da confecção. A caixa possui uma tranca de cadeado, mas o que guardar tão bem lá dentro? Seus sentimentos não poderiam ser, não amava ninguém e ninguém o amava, vivia só em um mundo que ele mesmo criara. Pensamentos, então? Talvez, se ele pudesse achar que eles servissem para algum propósito ainda desconhecido por ele e que são irrelevantes agora. ‘Objetos físicos?’ pensou ele, por fim. ‘Não. Não há nada de valor nesse mundo para mim que caiba numa caixa tão pequena’, disse respondendo a si mesmo. A busca continuava...

            Foi então que ele percebeu que só restava uma última coisa a colocar naquela caixa: a esperança. A esperança de algum dia ter algo para colocar numa caixa vazia...

            Ele abriu a caixa, olhou para dentro dela, de olhar fixo no seu fundo escuro diferente do resto da caixa. Deu um último suspiro e procurou se lembrar daquilo que tinha vontade de colocar na caixa. As ideias que lhe viam eram de ter um país melhor, um país de verdade, um país em que pudesse confiar e que no meio de uma guerra, seja política ou da sobrevivência, ele pudesse lutar e se sentir merecedor do título pátrio que recebera ao nascer. Sonhava também que um dia colocasse na caixa o seu coração, preenchido por uma paixão que lhe dissesse que a vida valera à pena. Quem um houvesse de ter sentido no corpo o calor de outro corpo, uma sintonia sem igual que o fazia chorar de puro contentamento. Alguém que ele tinha certeza que nunca apareceria em sua vida. Um sonho quebrado que nunca seria concertado e que ele tinha certeza que se alguém recolhesse os cacos, seria para triturá-los de vez...

            Pensando mais um pouco, colocou lá no fundo da caixa, escondido sobre as outras esperanças, a sua inocência e bondade. Acreditar no mundo? Por mais que seu coração lhe implorasse por piedade, que eles não sabiam o que estavam fazendo, ele era fraco demais para conseguir resistir à força da sociedade que deixa de lado tudo aquilo que você fez certo na sua vida, mas que por um erro, um único erro, te massacra por ser culpado, mesmo quando errar é humano. Para fazer parte da sociedade você não pode errar, você nunca pode errar. Errar é uma facada fria nas costas que te faz subir o sangue pela boca e aos poucos destrói a sua ingenuidade que morre nos seus braços. Viver se tornar algo sério, pesado, impossível de suportar, tudo porque você errou uma única vez. Seu erro, que ele queria esconder dentro da caixa, era ter nascido...

            Colocou também dentro da caixa a sua frustração como pessoal. Ele não era a pessoas que queria ser, ele não era o filho que queria ser, ele não era o irmão que queria ser, ele não era o familiar que queria ser, ele não é o amigo que queria ser, ele não era o profissional que queria ser... Em sua mente, ele era inútil e se ele era inútil, ele era desnecessário, dinheiro que seus pais poderiam ter gasto com uma casa própria, com a faculdade dos irmãos, com a felicidade que ele nunca pode ter contribuído. Além disso, colocou por fim as suas lágrimas, o pranto que ninguém ouviu ou se importou em perceber. Ele não estava satisfeito consigo mesmo e não queria se permitir estar, só assim para se sentir justo consigo.

            Olhou para a caixa de madeira e chorou diante dela. Ele a fecharia para sempre e assim o fez. Baixou a tampa e passou o cadeado. Deixava ali uma data, até o final do ano, menos de seis meses, se algo não mudasse em sua vida ele destruiria todos os sonhos que estavam fora da caixa. Abandonaria seus textos e se entregaria à marcenaria, fazendo caixas e mais caixas. Apenas caixas.

            Com um cordão azul, ele amarrou a chave do cadeado no pescoço e decidiu que o levaria para onde fosse. A caixa estava trancada com suas esperanças dentro e ficara com a chave para se lembrar que elas estavam lá. No rosto, levaria um sorriso que não era dele; na cabeça, teria pensamentos que não eram dele e procuraria fazer coisas que ele não queria fazer. Guardou a caixa em um lugar alto e falou para si mesmo:

            – A vida é assim, um dia você cresce e não sabe porque existem sonhos...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Devil’s Drink 19 – Preciso de ajuda


Devil’s Drink 19 – Preciso de ajuda



            En’hain não estava muito bem, seus sentimentos estavam confusos... Eram aquilo sentimentos de verdade? Essa era a pergunta que ele estava se fazendo naqueles dias tumultuados de sua cabeça. O bar precisava de alguém mais responsável, talvez? Ou seria uma das partes que constituíam o plano etéreo ou material que se digladiavam dentro dele, o dragão da terra e o dragão do céu. Sua personalidade estava sendo consumida a cada vez que ele precisava assumir o corpo metálico – com certeza a batalha travada dentro dele deixava marcas profundas e violentas em seu frágil ser.

            Ele tentava ater-se aos sentimentos que o seu coração lhe dizia, o carinho que tinha por Akai, a amizade com Gurei, Sasha e Lady Neko e a sensação estranha quando se encontrava com o Senhor Gunshin, o dono do bar. Mesmo assim, dia após dia, algum problema lhe virava a cabeça e tirava-o do sério, estressando En’hain tremendamente. Enfim, sua consciência acabou apagando. Os outros mal teriam percebido isso, não fosse a garrafa de Devil’s Drink que se espatifou no chão. O barman cambaleou, tentou se segurar nas prateleiras cheias de garrafas e foi ao chão, derrubando tudo em que se segurara. Naquela noite o bar não iria abrir...

            Lady Neko foi até o templo dos gatos chamar o vovô para que pudesse ajudar En’hain. Enquanto isso, Akai e Gurei ficavam observando o amigo e Sasha limpava a bagunça:

            –Acho que ele vai morrer... – Disse o neko russo com seu típico humor ácido e inconveniente.

            –...! – Akai olhou pra ele com desprezo. – En’hain vai ficar bem, seu babaca!

            –Tem certeza Santiago? – O gato cinza sorria com um ar de cínico.

            –Certeza absoluta, Alexander! – O pequeno neko falava com firmeza.

            –Depois dele tanto ter cuidado de nós e da vila, nós nem notamos que ele estava ficando doente... – Agora seu tom era mais amigável.

            –... – Gurei conseguiu fazer Akai ficar calado e desviar o olhar.

            Indignado consigo mesmo, o gatinho avermelhado saiu do quarto e foi se meter no meio da floresta do silêncio. Gurei assistiu aquilo com muita curiosidade:

            –O que será que o seu amiguinho foi aprontar, En’hain?

            O barman não podia responder com clareza, mas balbuciava algo:

            –Akai... Akai... Akai... – No canto dos olhos, pequenas lágrimas escorriam.

...

            Não dava para saber se En’hain ficaria bem ou se Akai voltaria para o bar. A partir de agora, o destino da Toca dos Gatos se tornou incerto...

...

            “Onde estão, onde se escondem os verdadeiros sentimentos? A noção de realidade foi completamente perdida!” – Alguém chorava no velório.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Gatos, gatos e mais gatos! II

Continuando com a série de gatos (e eventualmente um cachorro), temos mais gatinhos maravilindos pra você que é fã desses animais adoráveis! Quem quiser ver a origem das fotos, é só clicar no link do facebook! \o/


015 – Akai, não faça propaganda desse jeito, tem que ter jabá! -_-'


016 – Akai, eu falei pra você dormir cedo ontem! Olha no que deu! -_-'


017 – Não tem como ser mais perfeito! *-*


018 – Meldéus! O.O É isso o que eu quero fazer na toca dos gatos! =3


019 – Amazing! *-*



020 – Oh meu Deus! =3



021 – Sasha e seus irmãozinhos... =3



022 – Que preguiça...





023 – Oh my god! So cute! =3




024 – Oh god! *-*

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Epílogo



Alguns anos após a batalha contra os Caçadores Sombrios, esta transmissão pirata foi detectada pelos sensores do Informe do Multiverso...

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            Em algum lugar do multiverso, num planeta do quarto quadrante, rico em magia e tecnologia bélicas, e que não pode ser pisado pelos Senhores de Castelo; uma menininha em um balanço canta alegremente em meio a diversos destroços de uma antiga usina de energia:

            –Um, dois, três... Vou matar todos vocês... Quatro, cinco, seis... Vão ser todos de uma vez... Sete, oito, nove... Até que tudo se renove...

            –Mestra Nina... – Um homem alto, forte e vestido de preto interrompe a pequena criança de vestido vermelho e fita no cabelo.

            –Meu querido Kullat negro, novidades? – A mocinha sorria para ele sem se importar com a interrupção.

            –O filho do fim já está em nosso planeta...

            –E onde ele está? Quero brincar com ele! – Seu sorriso era meigo e terno.

            –... – O serviçal ficou preocupado com sua reação.

            –Houve algum problema, meu docinho? – Os suplicantes lindos olhos azuis grandes e delicados expressavam alguma piedade incomum.

            –A nave que o estava trazendo foi abatida pelos rebeldes do povo e foi consumida numa grande explosão. Não houve sobreviventes...

            –Seu bobo... – A menina sorria ao levantar os ombros próximo ao pescoço. – Ele é imortal! Provavelmente foi ele mesmo que explodiu a nave... Algum sinal do intrometido?

            –Não, minha mestra, nenhum...

            –Pode ir. Não lhe farei nenhum mal dessa vez... – E ela voltou a se balançar alegremente. – Um, dois, três... Vou matar todos vocês... Quatro, cinco, seis... Vão ser todos de uma vez... Sete, oito, nove... Até que tudo se renove...

            O chamado Kullat negro saiu do lugar, meio apreensivo e foi falar com seu amigo, o Thagir vermelho:

            –Cara, essa foi por pouco... – Ele ofegava e seu coração batia forte.

            –A menina monstro te poupou legal dessa vez... Um passo em falso e ela te destroçava!

            –Não me fale nisso... Já basta termos escapado daquele seu bichinho maldito graças a ela, essa... Essa mutante!

            –Hahaha... – O Thagir vermelho tinha um sorriso de malicia estalando no canto da boca. – Temos outros negócios para tratar... Esse filho do fim é o mesmo das grandes profecias, quem o controlar pode ter galáxias inteiras ou universos inteiros ao seu comando! O poder dessa garotinha não é nada comparado ao dele.

            –Você, seu idiota, sempre com grandes pretensões e quem acaba se ferrando é a gente! Quer saber, é cada um por si!

            –Como queira... Eu consigo o que eu quero de qualquer jeito! – Sua voz não demonstrava nenhum sentimento com a partida do companheiro.

            O Kullat negro começou a andar e saiu da velha construção, o outro se sentou na frente de um computador que estava ligado ali e começou a digitar diversos conteúdos na tela. Seus olhos estavam vidrados na tela e, de repente, sorriu:

            –Achei!

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Mudança de imagem, aqui começa outra transmissão...

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            Eram duas crianças que vestiam suits de sobrevivência, aparentavam ter uns dez e cinco anos respectivamente, elas estavam caminhando por uma zona de reciclagem que se estendia até o horizonte. Em alguns lugares, grandes máquinas derretiam pedaços de metal junto com o que tivessem coletado, deixando cair o amontoado de ferro-velho em grandes caldeiras, liberando muita fumaça que poluía o céu. O mais velho dos meninos tinha cabelos vermelhos, olhos azuis e pele clara, demonstrava estar determinado a encontrar um abrigo. O menor tinha cabelos negros e mais curtos com alguns manchas alaranjadas, tinha pele pálida e seus olhos eram meio acinzentados e languidos, demonstrando estar seriamente doente. Ele estava cansado e com fome, já tinham andado muito:

            –Maninho, vamos parar, eu tô cansado...

            –Mas já?! Ainda falta muito. – A barriga do irmão menor roncou por causa da fome. – Nossa! Tem um tigre por aqui? Toma, é a minha última barra de comida... Vem, sobe nas minhas costas, eu te carrego.

            O garotinho sorria para o irmão tentando animá-lo para continuar, o menor coçou os olhos com o verso de uma das mãos e com a outra pegou a comida que havia pedido, depois subiu nas costas do irmão e os dois continuaram a andar no meio do lixo. Mais a frente, eles viram algumas crianças brincando no meio de um monte de entulho. O mais velho bateu a perna em um engradado e reparou no símbolo que ele apresentava:

            –Lixo... Hospitalar... Cuidado... – Ele voltou-se novamente paras as crianças e percebeu que elas haviam encontrado um cilindro com a qual brincavam.

            Uma das crianças, a que segurava o tubo, não queria dividir ele com as outras. Vasculhando-o, encontrou uma maneira de abri-lo e correu para um lugar para ficar com tudo que tinha dentro. O que saiu do cilindro era um pó verde e brilhante, o que deixava a criança extremamente alegre por brincar com algo tão diferente. As outras crianças correram para junto da outra fazendo o garoto mais velho ficar preocupado:

            –Corram!!! Corram por suas vidas!!! Isso é lixo radioativo!!!

            –Aaaaaaaaaah! – Era tarde demais, não havia como salvá-las, aquilo estava impregnado em suas peles e queimava muito, derretendo seus corpos.

            –Maninho?

            –Droga! – Ele saiu correndo na direção oposta. – Coloque seu capacete irmãozinho, este lugar é muito perigoso.

            Duas jóias, uma em cada roupa, brilharam num tom amarelo e dois capacetes surgiram em suas cabeças.

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Mudança de imagem...

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            A cena que aparecia era de um lugar grande e escurecido, haviam diversas pessoas carregando incensórios dourados, trajando armaduras prateadas cobertas por túnicas violetas e púrpuras. Alguém, numa parte mais alta, estava sentado num trono, carregava uma coroa de neon verde-azulado e tinha uma espada desembainhada longa e serrilhada na frente do corpo com as duas mãos sobre elas. Sua pele tinha um tom dourado e sua armadura e túnica acompanhavam a tez cintilante. Os olhos lembravam os humanos, sendo que estes eram invertidos, o fundo dos olhos eram negros e a íris era branca. Logo ele fez seu pronunciamento:

            –Irmãos da Luz Cósmica, é chegado o dia da grande profecia! O filho do fim deve ser exterminado e somente assim teremos paz no multiverso! Não podemos deixar os Senhores de Castelo sobrepujarem a nossa luz, ela brilhará milhares de vezes mais que aquela organizaçãozinha barata! A Irmandade Cósmica iluminará todo o multiverso!

            –A grande verdade pertence ao Grande Irmão Estelar! – Disseram todos, desembainhando cada um suas espadas e erguendo-as para o alto.

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            A sorte estava lançada, o que poderia ser feito ou que aconteceria, somente o futuro poderia mostrar...

...

Fim de transmissão...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Dia de Glória
Informe do Multiverso



Começando transmissão...

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            “Rhu’ia! Saudações, Senhores de Castelo! Eu sou o novo apresentador e repórter do Informe do Multiverso. Meu nome é Vid, como todos que vem acompanhando as transmissões desta emissora castelar, vocês já devem conhecer o meu nome. No momento, como estou em reabilitação e o trabalho estava disponível, me colocaram para apresentar o programa até que aparecesse alguém mais habilitado. Como Fentáziz avisou no último programa, ele foi chamado para uma reunião direta com os anciões e não mais faria o Informe do Multiverso. Ele não falou sobre o que era, mas nos mandou uma última transmissão que poderia esclarecer o assunto. Espero que gostem!”
...

            O lugar onde haviam marcado o encontro era na torre do farol de Nopporn, cerca de meio dia no horário da ilha de Ev’ve. Thagir, que observava o horizonte, já estava esperando há alguns minutos e logo alguém começou a subir as escadas:
            –Oh, não pode ser! É o Mestre Caçador! – Thagir olhava para o homem que estava diante dele que usava uma roupa igual a do arauto do Comedor de Sonhos.
            –Você também não, Mestre Thagir! – Fentáziz tirou o capuz que lhe cobria a cabeça.
            –Desculpe... Você realmente se parece com ele vestido assim. – Thagir estava sorrindo. – Então, é verdade o que estão contando por aí, que você foi convidado a finalmente ser um Senhor de Castelo e recusou?
            –Foi... – Fentáziz olhava para o horizonte. – Você sabe por que eu nunca passei pelos treze dias?
            –Sei... Você nunca foi bom em obedecer a ordens e sempre arriscava todo mundo que também estava participando das provações. Mas, depois de tanto tempo, porque recusar? Não era por isso que você estava aqui, ou não? – Thagir tinha um olhar de quem sabia de algo.
            –Eu nunca seria um bom Senhor de Castelo... – Fentáziz também olhava para Thagir e sorria. – Senhores de Castelo estão presos a um regime rigoroso de conduta e nunca podem interferir diretamente nas sociedades que visitam no multiverso. Definitivamente, isso me enlouquece!
            –Heh, a vida de Senhor de Castelo nunca foi fácil... Sempre vai existir um planeta por aí que vai se recusar a sediar a Ordem dos Senhores de Castelo.
            –É por isso que recebi a outra proposta...
            –Então os Caçadores Sombrios realmente serão admitidos na Ordem dos Senhores de Castelo como um grupo secreto?
            –Sim. Pelo que os anciões disseram, as habilidades de cada um dos Caçadores Sombrios precisa ser manejada da maneira adequada, com treinamentos mais duros que os normais, uma vez que ser um Caçador Sombrio vai além das habilidades comuns. Só serão recrutados para o grupo aqueles que não tem controle pleno de suas habilidades naturais e poderiam causar estragos indesejáveis por aí. Aliás, a Senhora de Castelo, Laryssa de Agabier, tem uma aura natural muito forte, acredito que se ela fosse treinada adequadamente poderia chegar a um nível superior de poder...
            –Não... Acredito que não. Laryssa já tem muitas preocupações daqui para frente, com o Kullat e o casamento. Quem sabe na próxima geração. – Thagir olhava agora para uma Estrela Escura que aparecia no seu campo de visão. – Esses colossos espaciais, pelo que soube, eles vão ser usados para ampliar as instalações da ilha de Ev’ve, é verdade?
            –Vão sim... As Estrelas Escuras possuem geradores de energia suficiente para suportar os sistemas ecológicos fechados. Vai demorar um pouco para adaptar o antigo sistema de controle central. Nada que os grandes engenheiros castelares não consigam resolver em alguns meses. Vai haver uma para os centros de tratamento intensivo de saúde, outra será usada como arena de batalha, a terceira para suportar laboratórios mais complexos e a última vai ser...
            –Para os maquinários mais robustos, a Estrela Oficina, entre outros aparatos que ainda serão desenvolvidos pela ilha.
            –Você está muito bem informado, não é mesmo? Você seguiu a risca a lição do velho professor de Estratégias e Estratagemas: Garanta sempre um bom informante.
            –E nunca acredite nele! – Os dois riram ao perceber que tinham mais coisas em comum. – Me diga uma coisa, seu nome não é Fentáziz de verdade, é?
            –Hahah... – Fentáziz gargalhou. – Não. Por falar nisso, Fentáziz significa ‘fantasia’, é ótimo para um nome falso. Você já sabia que eu não uso meu verdadeiro nome, não é?
            –Sim... E você também sabia que eu não estava passando verdadeiramente por dificuldade alguma contra os Caçadores Sombrios... – Os dois se entreolharam.
            –A gente anda sabendo demais um do outro! – Fentáziz voltou a sorrir.
            –Achei uma coisa estranha quando te conheci... Por que você ficou olhando para a própria mão?
            –Bem... Eu precisava confirmar se você continha ou não a essência dos deuses gêmeos. Não era preciso fazer o mesmo com Kullat, é fácil captar sua aura no ar...
            –Falando nisso, quando você me disse que tinha passado tempo demais na Academia e nunca tinha se formado, me veio um ideia na cabeça. E ela foi muito acertada! Todos os Caçadores Sombrios também foram pessoas que tentaram passar pelos treze dias e não foram aceitos pelos Anciões. Mostrei a Kullat, Laryssa e Azio os arquivos dos últimos cem anos daqueles que não se formaram. A aparência deles estava muito alterada pela influência do Comedor de Sonhos e nenhum foi identificado. Mas Laryssa confirmou as minhas suspeitas ao ver o homem-sombra mais de perto.
            –Verdade, meu cameraman era fácil de identificar. Apesar de ter segurado a irritação natural dele ao entrar em contato com a maru da Senhora de Castelo. A intuição feminina dela sempre desconfiou disso.
            –Então me diga, afinal, qual é a sua ligação com os Caçadores Sombrios? – Thagir encarava Fentáziz com seriedade, sendo retribuído com um sorriso.
            –Spoilers, meu amigo, spoilers. Não posso dizer... Mas agradeço imensamente pela ajuda. Nunca poderíamos nos livrar do Comedor de Sonhos sozinhos. Nunca houve uma intenção séria de machucar ninguém. Por falar nisso, devo dizer que se as verdadeiras habilidades deles fossem usadas contra toda a Ordem dos Senhores de Castelo, a ilha de Ev’ve teria caído há muito tempo. Existem muitos pontos fracos por toda lugar e um verdadeiro caçador sempre sabe caçar a sua presa...
            –Você sabia que eu sabia que você sabia... Nossa! Isso já está ficando confuso... – Thagir voltou a sorrir e a olhar o horizonte.
            –Hahah... Os Caçadores Sombrios sempre serão os eternos rivais dos Senhores de Castelo, lutando do mesmo lado, ou não... Tocando no assunto, tem mais uma coisa que os Caçadores Sombrios vão fazer...
            –E o que seria?
            –Caçar Senhores de Castelo...
            –...?! – Thagir estranhou o comentário inesperado.
            –Quando um Senhor de Castelo sair da linha, os Caçadores Sombrios serão imediatamente convocados para dar conta do recado, evitando assim que os castelares sejam desviados de suas missões principais.
            –Entendo... Bem, finalmente chegou o nosso Dia de Glória... – Thagir suspirou.
            –O décimo terceiro dia... “Quando tudo acabar, o que faremos?” – Relembrou Fentáziz da citação no Livro dos Dias. – Daqui pra frente, tudo vai mudar pra mim e pra você...
            –Por quê? Essa eu não entendi...
            –Só me prometa uma coisa, se seu filho não quiser ser um pistoleiro, continue apoiando ele. Está bem?
            –Desculpe. Você quer dizer filhas, certo? Até entendo que elas puxaram a mãe e serão ótimas arqueiras e tudo...
            –Não estou falando delas...
            –Do que então?
            –Pergunte para Dânima, ela vai te explicar melhor...
            –...! – Thagir finalmente havia percebido o que acontecera e saiu correndo. – Dânima, querida! São quantos meses, meu amorzinho?!
            –Hahaha... Hahaha... – Fentáziz não parava de rir. – Esse velho... Sempre fazendo isso! Tio Kullat também vai encarar uma boa com o casal que está por vir... Já chegou minha hora. Adeus, aqui foi Fentáziz para o Informe do Multiverso! Iqueróm wa puma!
            Fentáziz começou a esmaecer e desapareceu na frente da câmera.

...

            –... – Por causa de problemas técnicos, o apresentador Vid não conseguiu dar um último depoimento para esta transmissão.
...

Transmissão encerrada...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Sonho e Realidade
Informe do Multiverso



Começando transmissão...

            “Rhu’ia! Saudações, Senhores de Castelo! Agora que tudo está nos conformes, podemos voltar a transmitir a nossa programação do Informe do Multiverso normalmente! Hoje venho lhes contar sobre o estado da nossa querida Senhora de Castelo, Laryssa de Agabier, que permaneceu desacordada por mais de uma semana! Ela já acordou e passa bem, está extremamente feliz e nos contou com exclusividade o sonho que teve durante o seu período de coma. Confira! Aqui é Fentáziz, do seu Informe do Multiverso.”

...
            “No sonho tudo era bom, eu estava em Agabier, andando a cavalo por uma manhã meio nublada com meu pai, Larys, rei Agas’B. Os animais estavam recolhidos por ainda ser meio cedo e a natureza estava contente por reunir os elementais do ar, da água e da terra na dança da chuva do dia anterior. O cheiro da umidade estava melhor do que nunca, a vida estava transbordando naquele momento. Eu olhava para o meu pai e ele olhava para mim, sorriamos um para o outro. Eu nem me lembrava do que estava acontecendo, simplesmente eu o seguia lado a lado, sentindo a leve brisa de Agas’B no meu rosto, não haveria momento melhor que aquele.”
            “Ao chegarmos próximo ao castelo, avistei alguém que acenava para mim, eu não conseguia ver seu rosto, então perguntei para meu pai quem era aquele. Ele virou se para mim e disse: ‘Ainda está com sono minha filha? Não consegue ver direito? Aquele é o seu noivo!’ Eu me assustei muito, eu nunca fui prometida em casamento a ninguém. Meus pensamentos me diziam que meu pai havia aprontado alguma e que eu acabaria me casando com alguém que nunca amei. Olhando de perto, percebi que era um homem alto, forte... que realmente não tinha rosto! Percebi que deveria estar num pesadelo, desci do cavalo e sai correndo para dentro do castelo, estava apavorada, pensando: ‘Por que meu pai não afasta aquela assombração para longe de mim? Por que os soldados e guardas do castelo não fazem nada?’ Eu tremia atrás da porta do meu quarto, pensando no pior.”
            “Foi então que alguém bateu suavemente na porta: ‘Mestra Laryssa? Por favor, abra a porta, sou eu, seu amigo Azio.’ Me alegrei em ouvir aquela voz que mais ninguém apresentava, tinha certeza que era meu amigo autômato que sempre me acompanhou desde que eu era pequena. Decidi abrir a porta o suficiente para checar se o monstro estava lá e não deixá-lo entrar. Vi Azio e me acalmei um pouco, deixando o entrar:
            –Mestra Laryssa está bem? Meus sensores indicam que seu coração está batendo muito forte... É por causa do casamento?
            –Azio... – Eu queria chorar. – Quem era aquele?! Eu nunca fui prometida em casamento!
            “O meu amigo de lata virou-se e tentou abrir a porta. Quando vi novamente aquele rosto sem feições que me assustava tanto ‘olhar’ pela fresta, subitamente fechei a porta em sua cara. Ouvi algum gemido de dor, me preocupei um pouco com o sujeito, mas meu coração disparado me impedia de abrir aquela porta e olhar.”
            “Azio olhava para mim, piscando os olhos eletrônicos de preocupação. Ele pôs a mão metálica no meu ombro, me fazendo sentir a temperatura natural de seu corpo, e tentou me dizer algumas palavras: ‘Mestra Laryssa, estou muito preocupado, desde que voltamos da grande batalha contra os Caçadores Sombrios, você tem agido muito estranhamente. Você ama o seu noivo, não ama?’ Aquilo me caiu como uma pedra. Como eu poderia ter concordado com aquilo?! Eu só me lembrava de Kullat, meu amado Kullat... Comecei a chorar, molhando meu rosto por inteiro, no meu coração eu sabia, Kullat estava morto e não voltaria mais!”
            –Eu... Só amei o Kullat... Agora vejo meu amigo, não conseguiria me casar com mais ninguém. – Eu tentava fazer Azio entender o que se passava comigo.
            –Laryssa, meu amor, abra a porta! – O sujeito que me prometeram em casamento tinha perdido a paciência.
            –Eu não sei quem é você! Vá embora! Eu não quero me casar!
            –Laryssa! Não faça isso comigo, abra a porta, vamos conversar direito! – Ele insistia em mexer na maçaneta e eu a fechá-la com a minha força.
            –Por favor, não insista... Procure outra pessoa, meu coração é de apenas um e ele não é você... – Os movimentos da maçaneta pararam.
            “Desconsolada, comecei a escorregar pela porta, me sentando no chão, aos prantos e soluços. Acho que acabei adormecendo e Azio me pôs na cama.”
            “No dia seguinte – eu deveria ter dormido uma noite inteira – acordei melhor comigo mesma. O dia estava melhor, o céu era límpido, não havia ninguém no meu quarto, me recostei na cama e contemplei aquele dia maravilhoso através da janela por algum tempo. Alguém bateu na porta e eu disse que podia entrar.”
            –Mamãe, mamãe! Bom dia! – Eu ouvia a voz de uma menininha. Quando olhei para o seu rosto senti meu corpo inteiro ficar gelado.
            –Quem é você?! Eu não sou sua mãe!!! Você não tem rosto!
            “A menina começou a chorar e saiu do quarto. Eu me apertei com as cobertas, sentindo cala-frios terríveis. Como alguém pode me deixar sozinha com aquela assombração por perto? Então aquele sujeito sem rosto entrou pela porta segurando a menina no colo e se aproximou de mim. Eu só conseguia pensar ‘O que está acontecendo aqui? Eu o mandei embora ontem!” Ele se aproximou, sentou-se na cama e tentou por a mão nos meus pés, que lhe estavam mais próximos. Eu recuei, olhando para o outro lado. A menina estava mais calma e começou a falar com ele:
            –Papai... – A menina ainda choramingava. – Por que a mamãe disse que não me conhece?
            –Não sei filha... – Ao ouvir isso, acabei gritando e me escondendo debaixo das cobertas. O sujeito se assustou, e abaixou a cabeça, aparentemente triste comigo.
            –Laryssa... Você não se lembra do dia em que te dei o anel que está no seu dedo? – Somente depois que ele me disse percebi, realmente havia um anel no meu dedo, um lindo anel por sinal. Era cravejado com uma pequena jóia cor-de-rosa e lindas flores entalhadas. Olhei do outro lado e reconheci um símbolo que fez com que eu me acalmasse.
            “Lentamente, fui saindo debaixo das cobertas. Aquilo parecia um sonho, eu estava chorando, mas não de medo, era de imensa alegria... Em seguida, eu acordei. Estava no centro de atendimento médico da ilha de Ev’ve, os Senhores de Castelo haviam derrotado os Caçadores Sombrios e a paz havia retornado ao multiverso. O meu destino já havia sido traçado, aquilo era apenas mais um sonho. Algo impossível... Até que eu notei algo em minha mão... Era o mesmo anel do meu sonho! ‘Mas, quem poderia ter colocado ele? Droga, por que temos dificuldade em lembrarmos os nossos sonhos?!’, eu estava pensando. Uma voz conhecida me disse algo, eu não havia entendido direito, minha cabeça ainda não estava plenamente sã, então ela repetiu:
            –Desculpe ter colocado o anel enquanto você dormia... Eu não aguentava a espera, estava ansioso demais pra você... – Eu me joguei em seus braços, não deixando que terminasse a frase.
            –Sim, eu aceito!
...

            –Bem, foi isso o que aconteceu, hoje sou a mulher mais feliz do multiverso! – Laryssa apertava as mãos com alguém do lado.
–Eu já morri uma vez... Não quero mais ficar longe dessa mulher incrível! – Os dois se beijaram.

...

            “É meu povo! Todo mundo aqui da ilha está muito surpreso com este inesperado presente dos Caçadores Sombrios. E não apenas isso, todos os Senhores de Castelo que morreram durante as caçadas reapareceram vivos e saudáveis! Queria saber se isso é uma das experiências do Doutor Tóxico... Infelizmente, eu não vou poder contar isso a vocês, esta será a minha última transmissão como repórter e apresentador do Informe do Multiverso. Agora tenho que ir, estão me chamando na sala do conselho...
...

Transmissão encerrada.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - Os Caçadores Sombrios


Dia de Milagre



            “Este é o dia em que um aprendiz deve testar e abrir sua mente para fazer o impossível, e acreditar que mesmo quando todas as esperanças se vão, sempre há a chance de algo realmente bom acontecer.”

...

            O multiverso se acalmou, toda aquela energia estava começando a diminuir e se dissipar. O farol de Nopporn continuava a brilhar com sua incrível chama azul-esverdeada que se intensificou ainda mais. A Espada do Infinito reagiu ao chamado da anciã e deixou o corpo de Thagir que voltou a ser como era. O artefato místico voou pelos céus da ilha de Ev’ve e parou acima da torre, brilhando como uma estrela, removendo toda a maru sombria que ainda escurecia as estruturas brancas e acolhedoras que os Senhores de Castelo conhecem tão bem. O céu azul retornou, as defesas da ilha voltaram a funcionar e lá, um pouco além do anel defensor, quatro colossos espaciais gigantescos orbitando em uníssono com a ilha e o sol artificial voltava a iluminar aquela terrível noite escura. Senhores de Castelo e aprendizes bradavam mais do que nunca pela vitória que chegava com o amanhecer.
            Dânima e suas filhas vieram ao encontro do pai e marido que tanto amavam, e se abraçaram fortemente com o calor da certeza que tudo ficaria bem dali para frente. Nos alto-falantes, alguns novos sons surgiam e o pronunciamento de Vidara começou:
            –Filhos de Nopporn! O dia amanheceu e as trevas se foram! Mais uma batalha chegou ao fim e temos muito que concertar e reparar, o trabalho e esforço de vocês serão árduos para trazer de volta o que tínhamos antes, mas tenho certeza que a força de trabalho unida de vocês logo terminará com esta simples tarefa! Descanse um pouco e ajudem a quem puderem, teremos um longo dia pela frente! – Os anciões já deveriam ter suas forças renovadas e o estado de petrificação desfeito quando a Espada do Infinito voltou para o seu lugar de descanso.
            Com a ajuda de todos, as populações que estavam aprisionadas nas Estrelas Escuras desceram para a ilha e eram prontamente atendidas por aprendizes e castelares, era um número incontável de pessoas e animais, de Curanaã, Oririn e alguns outros planetas. Alguns Capitães que estavam nas redondezas do centro do multiverso aportaram no porto da ilha e disponibilizaram seus navios para ajudar com a população, trazendo mantimentos e outras provisões.
Estava tudo correndo muito bem, até que se houve um tumulto causado pelos Caçadores Sombrios. Os anciões, como sempre, preferem ponderar no salão de reuniões sobre o próximo passo a ser tomado, enquanto aqueles que estão sendo julgados permaneceriam na prisão provisória da parte baixa da ilha, não fosse um pequeno problema com Histério, o cavaleiro fantasma, e seu filho Xerubim. Thagir, após ouvir o que estava acontecendo, foi em seguida para a Estrela Escura onde os caçadores se escondiam e viu que a coisa não andava muito bem:
            –Eu não vou deixar o meu filho!!! – Depois de se livrar do controle do Comedor de Sonhos, os caçadores perderam a aparência sombria e pareciam mais com humanos agora.
            –Senhor, você será encaminhado para as celas e permanecerá por lá até os anciões chegarem a um veredicto. – Ponderava um dos guardas.
            –Vocês não vão fazer nada com o meu filho!!! – A criança chorava atrás das pernas do pai.
            A armadura que Histério usava não tinha mais o poder fantasmagórico de antes, mas continha muito poder e ele insistia em afastar os guardas castelares. Thagir chegou o mais depressa que pode e tentou ajudar como podia:
            –O que está acontecendo aqui? Por que todo esse alvoroço?
            –Mestre Thagir! – O guarda ficou espantado com a presença do grande Senhor de Castelo. – São esses dois, eles devem ser levados para as celas e insistem em evitar o nosso auxílio.
            –Deixe me ver... – O rei de Newho se aproximou. – Seu nome é Histério, não é?
            –Sim... – O homem ainda estava inquieto. – Eu não quero que levem o meu filho!
            –Se acalme, não vamos fazer nada ao seu filho. Venha conosco, tudo ficará bem.
            –Não, eu não vou voltar para o meu planeta natal, jamais eu farei isso de novo!
            –E qual seria o seu planeta natal? – Thagir se mantinha calmo para ouvir o antigo inimigo.
            –Eu não vou dizer! Eu não vou voltar pra lá! Se afastem do meu filho! – Uma onde de força derrubou Thagir e os guardas.
            Nesse momento, o grande ancião N’quamor adentrou o lugar com mais guardas castelares:
            –Já chega! Os Caçadores Sombrios já trouxeram problemas demais por um único dia, levem-nos imediatamente.
            –Não, me larguem! Deixem meu filho em paz! – Vários castelares mais bem equipados os estavam rodeando com o que pareciam ser inibidores de força.
            –Grande Ancião? Por que estas medidas tão drásticas, eles só estão com medo...
            –Thagir... – Seu tom era austero. – Estamos tomando apenas medidas provisórias, nada definitivo. Temos urgência em cuidar das milhões de pessoas que abarrotam nossas ruas. Isso se faz necessário...
            –Eu não teria tanta certeza... – Fentáziz acabara de chegar ao salão da Estrela Escura.
            –Você?! O que faz aqui? – Thagir e o ancião acharam estranho a intervenção do repórter.
            –Vim fazer o que preciso fazer... – Fentáziz parou os guardas e chamou a atenção do garotinho, se abaixando e abrindo os braços. – Venha, pode vir Xerubim.
            O garotinho hesitou um pouco, com o rosto molhado e o nariz escorrendo de tanto chorar e se dirigiu para perto de Fentáziz:
            –Isso, bom garoto. – O repórter levantou-se junto com Xerubim num abraço, enquanto esfregava as mãos nas costas do menino que começava a se acalmar.
            –...! – Histério estava surpreso. – Xerubim nunca ficou assim com ninguém!
            Fentáziz olhava para os seus dois superiores com olhar de desaprovação e levantou um pouco a camisa do garoto, mostrando diversas cicatrizes que deveriam ser muito profundas:
            –Seu planeta natal... – Fentáziz virou-se para Histério. – É Adrilin, não é?
            –... – O cavaleiro de armadura apenas mexeu levemente a cabeça dizendo que sim.
            –Como eu suspeitava... Xerubim não era um caçador que obteve seus poderes do comedor de sonhos, ele é mais uma das crianças que acabaram nas mãos dos cientistas loucos daquele planeta...
            –Espere! O governo de Adrilin nunca permitiria isso, os poderes que ele tem são poderosos demais. – Interveio Thagir.
            –Receio que não são esses cientistas. Estive com Alvo e Blanco agora a pouco para confirmar a possibilidade e eles me disseram que alguns dos cientistas gêmeos de Adrilin sequestravam crianças univitelinas para experiências desumanas. Há alguns anos anunciei uma pequena reportagem sobre Adrilin que falava sobre crianças desaparecidas. Reconheci o brasão da armadura de Histério, é uma ordem fundamentalista que prega coisas desse tipo como coisas normais e que aparentemente tem alguma ou pouca ligação com o governo... Estou certo, cavaleiro?
            –... – Histério baixou o olhar, tentando fugir de seu passado. – Eu nasci com um irmão gêmeo, mas por complicações médicas ele veio a falecer e tive uma infância solitária naquele planeta... Quando já tinha idade para sair da casa dos meus pais, pedi a eles que me dessem uma viagem interplanetária. Nesse novo planeta, conheci a mãe de Xerubim. Levei-a para Adrilin e nos casamos. O povo sempre ficava comentando sobre a nossa relação, que a minha esposa lembrava alguns adrilinianos, eu não liguei. Ela estava grávida e foi então que a desgraça começou. Vândalos pintavam a fachada da nossa casa com palavras como: “Solitários”, “Sem irmãos”, “Uni”... Sempre duas vezes. Por causa disso e de outras situações mais constrangedoras, a gravidez dela passou para uma gravidez de risco, e veio a falecer, dando a luz a um filho único. Eu estava feliz, pude ter perdido quem amava, mas ganhei o melhor filho do mundo. Até ele ser sequestrado...
            Histério estava chorando. Os guardas o soltaram e Fentáziz levou o filho de volta ao pai. O repórter perguntou algo no ouvido da criança e ela apontou para o corpo do arauto que estava mais adentro do salão. Thagir e N’quamor olhavam curiosos para saber o que o simples repórter estava fazendo, trocando alguns olhares de vez em quando. Os outros caçadores que se escondiam pelas instalações do centro da estrela, também demonstraram interesse, aparecendo de seus esconderijos. Fentáziz procurou por algo e encontrou, era a esfera amarela que Xerubim usava como arma. Ele sentiu algo diferente ao tocar naquele objeto que começou a brilhar intensamente, sumindo no ar:
            –Ué?! Que esfera louca! Disse-me que tudo iria melhorar... – Fentáziz estava admirado e retornou para junto do caçador e seu filho. – Desculpe, a bola se foi... Tome. – Ele tirou um pequeno docinho caramelado do bolso. – É tudo que eu tenho.
            A criança ficou feliz com o agrado, sorrindo abertamente. De repente, um guarda castelar entrou correndo no recinto:
            –Grande ancião, grande ancião, temos grandes notícias! – O jovem estava esbaforido.
            –O que foi meu filho, o que aconteceu?
            –É o seu planeta natal... Ele reapareceu em sua orbita original!
            –...! – Todos estavam surpresos.

...

Transmissão encerrada.