Cidade Alta
Semi-enterrados,
os Senhores de Castelo foram retirados um a um dos escombros daquela imensa
quantidade de prédios ruídos por eles mesmos. Um plano audacioso, Rigaht
reconhecia, enquanto sua mestra infante lhe ordenava isso e aquilo para
resgatá-los. Não dava para se saber ao certo quantas máquinas da legião
parafuso haviam sido destruídos. Foram centenas e milhares, disso eles sabiam,
constatando o incrível buraco que fizeram na paisagem urbana e morta que ardia
em alguns poucos lugares em que o combustível dos maquinários era consumido
pelo fogo. A poeira era forte e demorava a se dissipar, fazendo todos eles
tossirem. Ficaram escondidos por mais de meio dia até se recuperarem.
Novamente a
noite chegara e com ela a plataforma se iluminou, dando a impressão de que o
escuro se afastava por causa de alguma sociedade humana que existia ali.
Poderia se sonhar com algum parque alegre, cheio de pessoas felizes e
criancinhas sorrindo ao brincar. Ou ainda com pessoas trabalhando com total prazer
em suas amadas profissões... Mas não era isso. A plataforma que cingia o topo
dos prédios de base era carregada de laboratórios prontos, produzidos inteiros
em outro lugar e trazidos para o planeta sem nome para servir de apoio a
atrocidades inomináveis. E, se por algum motivo o laboratório se tornasse
inútil ou infectado, ele era sumariamente jogado por um carregador flutuante em
algum lugar da zona de lixo. Nos prédios abaixo da plataforma, funciona a
fábrica de máquinas, consumindo milhares de litros de diesel e queimando uma
quantidade absurda de oxigênio. Com a morte do último ser orgânico que
desprendia esse gás tão importante para a sobrevivência da vida, estar naquele
altar erguido nos céus para sacrificar almas ao conhecimento, se tornaria algo
muito mais perigoso que enfrentar uma legião de máquinas.