quinta-feira, 17 de maio de 2012

Fanzine Crônicas dos Senhores de Castelo: Os Caçadores Sombrios


Extra! Estrela Escura Encontrada! – Parte 2
Informe do Multiverso



Começando transmissão...

A nave Linx, com seus poderosos motores, aproximou-se da torre mais abaixo, abrindo-lhe um buraco para se conectar. O Capitão ordenou a um grupo de tripulantes que saíssem, utilizando suits de sobrevivência, e ativassem um aparato desenvolvido especialmente para rastrear maru:
            –Essa engenhoca ainda é experimental, mas é o melhor a fazer no momento... – Disse ele ao mapeador, ainda pensativo.
            A máquina de formato cúbico com algumas antenas, uma finas e outras parabólicas, foi ligada a energia do atravessador liberando pulsos constantes de energia através de uma jóia de maru branca. Segundo os computadores, a energia irradiada era insuficiente. O Capitão, demonstrando impaciência com a máquina, estava com uma veia saltada na testa, o Mapeador continuava despreocupado:
            –Qual o ajuste de intensidade? – Perguntou apertando o botão do rádio.
            –Segundo os dados, nem que tivéssemos a energia de uma estrela de nêutrons conseguiríamos algum resultado... – O que o pesquisador dissera assustara aos Senhores de Castelo.
            –Por quê? Esse rastreador de maru foi eficientemente testado na ilha de Ev’ve...
            –Não é o rastreador, é a Estrela. O material da qual ela é feita é supercondutor de maru. Em outras palavras, qualquer radiação será absorvida por sua estrutura.
            –Droga! – Berrou o Capitão. – Vamos ter de entrar as cegas!
...

            Toda a estrutura da Estrela Escura era complicada, por dentro dos andares havia um pouco de luz iluminando de maneira fraca e piscante, eles pareciam se conectar somente por um elevador que poderia suportar uma grande carga. Não havia nada dentro dos andares, apenas chão, paredes, tetos, janelas e o elevador, nada mais. A cor do material de que fora feita era escuro, metálico e frio, rangendo muito com o movimento orbital.
Conectando um cabo de força no painel, o elevador foi chamado. Por sorte, funcionou e abriu a porta. Por azar, só haviam cabos estourados pendendo pra lá e pra cá... de baixo pra cima! O painel superaqueceu e estourou, travando qualquer possibilidade de acesso aos arquivos do colosso. O que irritou deveras o Capitão:
            –Essa Estrela... Até parece que sabe que estamos tentando entrar! – O Capitão voltou se para um armário ali mesmo na cabine de comando e apertou um botão para abri-la, revelando uma supersuit e um capacete com visor transparente e filtros de ar. – Terei de ir.
            –Eu também vou. – Disse o Mapeador, ativando uma jóia que carregava no pulso em um bracelete, que magicamente o envolveu numa luz amarela, deixando o completamente vestido de sua própria suit de sobrevivência.
            O Capitão olhou para o Mapeador, com um pouco de ciúmes daquela roupa mais bem cuidada, e tocou uma jóia em sua supersuit, que também o envolveu. Ambos estavam vestidos e prontos. Abrindo o capacete, o Capitão foi até o rádio:
            –Centro de Inteligência? Capitão, chamando...
            –Na escuta Capitão...
            –Vamos subir...
            –Todos os sensores prontos aqui, assim que chegarem liguem sua câmeras e comunicadores. Boa sorte...
...

            Algo comum entre qualquer marujo é se sentir estranho em terra firme. Para um navegador experiente nas turbulência boreais, a experiência de estar num lugar completamente desconhecido não era confortável. O Capitão não queria demonstrar que um de seus maiores medos era justamente estar ali, naquele ‘objeto’ que lhe atormentava em terríveis pesadelos. Sentia que, a partir do momento em que entrasse ali, não haveria mais volta. Encontraria seu pesadelo frente a frente.
            A subida estava sendo realmente difícil, apesar de usarem propulsão a gravidade artificial realmente puxava para baixo, ou seria para cima? O grupo de resgate estava confuso. Mas não importava, estavam finalmente na camada da esfera, depois de abrir um rombo na porta. A gravidade artificial ali estava relativamente melhor:
            –2.1 segundo os registros, Capitão. – Como se não bastasse, a sensação de gravidade era o dobro da natural; desperdício de energia poderia ser crucial na operação.
            –Vamos seguir com o plano, duas duplas para cada lado. Quem encontrar o Senhor de Castelo perdido ou um mapa dessa... dessa coisa! Avise pelo comunicador.
            –Certo Capitão! – Disseram os seis que eram seus subordinados e que se separaram logo em seguida, em ritmo igual.
            –Bem, sobraram somente nós dois, o que vamos fazer? Os corredores se estendem em três vias e não há previsão do fim delas. – Perguntou o Mapeador.
            –Vamos pra cima... – O Capitão apontou para uma grade acima dele, talvez um duto de ar, olhando para cima logo depois do Mapeador.

...

            O labirinto era estreito, confuso, sem nexo algum. Qualquer ser não acostumado com a pressão da sobrevivência, já teria ficado claustrofóbico. Determinados a encontrar o Senhor de Castelo perdido, as quatro duplas seguiam seus caminhos, sem nem ao menos ter noção do que faziam. A bravura sempre foi o primeiro requisito para se tornar um Castelar, não se pode ter medo, pois é preciso agir quando ninguém mais age.
            O Mapeador começou a notar algo incomum:
            –Será possível? – Indagou para si mesmo, enquanto ainda espreitava pelo túnel apertado.
            –O que disse?
            –Todas estas curvas... Elas me lembram... Elas me lembram um fractal!
            –O quê? – Perguntou o Capitão que não entendia muito dessas coisas, de padrões repetitivos.
            –Espere... – O Mapeador ligou o computador do braço da suit e começou a fazer cálculos freneticamente.
            –...?
            –Eureca!
            –Ora! Diga logo! – Disse o Capitão acima dele, perdendo a paciência por não poder olhar para trás com o capacete grande demais.
            –De acordo com meus cálculos... – O Mapeador pegou um cortador a laser e fez uma abertura ali mesmo, saindo do duto. – Venha!
            O Capitão desceu e saiu pelo buraco:
            –Pelos deuses! – O Capitão estava boquiaberto.
            –Incrível o que a engenharia temporal pode fazer, não é?
            Do lado de fora, o Capitão e o Mapeador contemplavam a maquina de distorção funcionando – os túneis, todos eles, estavam ligados ao infinito. O Capitão não entendeu como isso era possível:
            –É simples, cada seção do túnel está interligado ao outra que pode estar ligada ao começo, fazendo uma grande repetição. – Explicou o Mapeador.
            –Como você sabe disso? – O Capitão estranhou o conhecimento do companheiro.
            –Sou perito na Ciência Boreal, se você não imaginar o infinito e torná-lo algo possível, você nunca fará um bom mapa do fluxo em toda sua capacidade. Veja, o buraco que fiz já sumiu...

...

            Apressando a missão, todos foram avisados pelo rádio do ocorrido e prosseguiram fora do campo de distorção. Finalmente dentro da verdadeira estrela, puderam observar o gigantesco centro de energia, pulsando, como se estivesse vivo. Ligado a ele haviam ligações que imitavam cabos, mas que na verdade eram uma espécie de colônia tubular que se estendia das bases até próximo ao centro. Dentro haviam ecossistemas naturais, com florestas, rochas, mares e vestígios de civilização de um lado e um céu com sol e nuvens artificiais do outro, em perfeito equilíbrio. Nem em um milhão de guerras espectrais se pensou na possibilidade de um sistema de sobrevivência tão avançado:
            –Tudo isto é... – Ia dizer o Capitão.
            –...uma imensa arca! – Completou o Mapeador tão maravilhado quanto ele.
            Porém, ainda havia trabalho a fazer:
–Chega... – Interrompeu o Capitão. – Temos de encontrar nosso companheiro castelar nesses... nesses...
–O termo continente tubular pode ser apropriado... – Disse o Mapeador ainda apreciando o milagre de engenharia colossal.
–Ou isso!
Repentinamente, ouviu se algum tumulto muito abafado dentro de uma das colônias, onde rochas e árvores estavam se deslocando de maneira estranha, sendo arrancadas de maneira tão violenta que era visível do lugar em que o grupo de resgate estava:
–É pra lá que nós vamos! – Disse o Capitão com determinação!

...

Transmissão interina encerrada...

–Aqui é Fentáziz, de volta a transmissão do encontro com a Estrela Escura. Temos boas notícias, o Castelar fora resgatado, um pouco debilitado, mas ainda com vida. Assim que haviam conseguido entrar no continente tubular, a transmissão de imagens foi cortada, sendo recuperadas apenas as que estavam sendo gravadas pelas suits. Assim que elas estiverem prontas, serão transmitidas para todas as Ordens dos Senhores de Castelo. Aqui foi o Informe do Multiverso, sentindo grande peso em nossos corações...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Fanzine Crônicas dos Senhores de Castelo: Os Caçadores Sombrios


Extra! Estrela Escura encontrada!
Informe do Multiverso



Iniciando transmissão...

            –Após o último acontecimento durante o almoço dos Senhores de Castelo, o Conselho de Nopporn e o grupo de repressão se fecharam para o resto da ilha de Ev’ve, debatendo constantemente sobre o próximo passo. Não fosse uma inesperada transmissão de um Senhor de Castelo, mestre de um navio boreal, dizendo ter encontrado uma das estrelas escuras no meio de um oceano boreal... “Não seria no mar boreal?”, perguntaram. “Não há fluxo aqui, é um mar aberto, estou encalhado...”, respondeu. Para completar, o Castelar anunciou o que todos temiam: “Estou sendo perseguido por alguém... Mandem reforços!” A seguir, a transmissão do que o grupo de resgate conseguiu nos enviar. Aqui foi Fentáziz, do Informe do Multiverso.

...

            A localização era um pouco imprecisa, comentava o castelar mapeador, natural de Tianrr, ao Capitão, também Senhor de Castelo, da nave boreal Linx – um atravessador boreal. O capitão, que já havia visto de tudo nos mares boreais, não estranhou, aquela era uma área de arrebentação, se um navio ou uma nave não forem bem manobrados, com certeza eles seriam destroçados:
–Muitos tentam atravessar essas áreas medonhas, cheias de redemoinhos, quase ninguém voltou para contar a história... – O mapeador olhou para o capitão com um ar curioso. – Somente meu pai, que também foi Senhor de Castelo, já contou uma história sobre um oceano boreal, uma área vasta de águas boreais sem um único fluxo que o levasse de volta a um portal.
–Interessante. Como seu pai conseguiu entrar numa área dessas e voltar? – Perguntou.
–Bem, não adivinha como ele chegou lá? – Perguntou o capitão pretendendo adivinhações.
–Imagino que do meio mais improvável. – Respondeu simplesmente.
–Sim... Muitos pensaram que o navio onde meu pai e meus avós estavam havia se perdido completamente naquela arrebentação. Imagine a surpresa do grupo de resgate quando uma misteriosa nave de fuga aparece com um sobrevivente? – O Capitão olhava fixamente para os fluxos de águas boreais a sua frente. – Meu pai me disse uma coisa antes de morrer...
–O quê? – Olhou o mapeador interessado, fazendo o capitão sorrir por ter conseguido atenção.
–Havia algo maior que um planeta inteiro lá...
–Como isso é possível?
–Depois que passarmos por essa arrebentação eu te conto! – O capitão pegou um interfone e gritou bem alto. – Toda potência à frente!
O mapeador acabou se desequilibrando, se segurando onde podia, estavam indo numa velocidade muito incomum para navegação:
–Cuidado! Vamos ter turbulências!
...

            Dando prosseguimento ao regate, o atravessador, nave especialmente construída para vencer os fluxos, furou a arrebentação e seguiu para a área do oceano boreal. O lugar era realmente enorme, um lugar onde barco nenhum conseguiria seguir seu curso – uma nave seria a melhor tentativa:
            –Nada a vista Capitão! – Disse uma voz pelo interfone.
            –Continuem procurando! – Gritou ele de volta.
            –Eu disse, a possibilidade de encontrarmos algo tão grande é praticamente impos... – O mapeador se calou, aquilo que via era majestoso e desconcertante ao mesmo tempo. – ...sível!
            –Hahah! Não te falei! Valeu por essa pai! Estou finalmente realizando o nosso sonho! – O capitão bradava de alegria, sendo interrompido por uma transmissão no rádio comunicador.
            –Ev’ve chamando Linx... Capitão na escuta? Câmbio! – O capitão pegou o microfone.
            –Linx na escuta, já estamos com imagens visuais disponíveis da estrela escura... Estaremos enviando, chegarão a qualquer momento. Câmbio!
            –Copiado, prossigam com a missão... Câmbio e desligo!
            –Certo... Câmbio e desligo!

...

            As imagens que chegaram surpreenderam muito. Imaginava-se que Ev’ve, por ser gigantesca demais para ser apenas uma ilha, já era colossal em suas proporções e que não houvesse algo tão próximo de ser como ela em todo multiverso conhecido. É claro que havia a possibilidade. No entanto, para que uma cultura que tivesse poder bélico tão desigual a todo o resto do multiverso era preciso que todos que o tivessem criado estivessem atualmente extintos. O que era impossível sem que houvessem registros, nem que fossem temporais, para creditar a existência de raça tão evoluída. Chegou se a comentar que havia a possibilidade da Estrela Escura ser um aparato tão diferente e avançado que seria catalogado como jurisdição do quinto quadrante. Para não dificultar as referências universais, aquele colosso espacial constaria no quarto quadrante, seção restrita.
            A Estrela Escura parecia um satélite artificial desligado, com diversas antenas em que luzes vermelhas piscavam nas pontas. Seu formato era esférico no centro, rodeado por dois anéis que formavam uma cruz orbital; os anéis também tinham diversas antenas. Entre as áreas dos anéis haviam torres que se destacavam, se sobressaindo da esfera, do centro para fora, da maior para a menor. Nas junções dos anéis, que estavam ligadas a esfera, se percebia um círculo que imitava algo parecido com um olho, brilhando fracamente em azul. Atingindo as proximidades da estrela, percebeu-se que não eram exatamente antenas, mas algo maior, como prédios, pois haviam salas e andares visivelmente distintos em cada divisão das torres. As luzes que piscavam eram na verdade imensos cristais de maru ressonando. A aproximação fez a robusta nave boreal Linx sumir no meio daquela imensidão...
...

            –Senhor de Castelo na escuta? Câmbio! – Perguntou o Capitão tentando sintonizar o rádio na frequência do pedido de socorro. – Senhor de Castelo na escuta? Câmbio!
            –... – Por alguns instantes, o chiado típico continuou; até alguém começar a falar. – Pelos deuses! Finalmente vocês chegaram! – O entusiasmo do náufrago era tanto que se esquecera de dizer câmbio.
            –Você está bem? Sabe onde está? Câmbio!
            –Estou sim... Meu cetro de maru parece funcionar bem nas portas desse lugar. O que infelizmente não é um boa notícia sobre minha localização. Câmbio!
            –E o que aconteceu com a sua tripulação? Pelos registros, vocês eram em pelo seis. Câmbio!
            –Não tenho boas notícias. Estão todos mortos... Câmbio. – O Castelar perdido cessou a animação.
            –O que aconteceu?! Câmbio!
–... – Ninguém respondeu. No fundo ouviu se o som parecido com o de uma bola quicando no chão compassadamente. – Não posso falar agora, preciso fugir...
–Espere! – Gritou o Capitão.
–... – Silêncio.
–Alguém na escuta? Câmbio!!! – Insistiu o Capitão.
De repente, o chiado havia parado e pode-se ouvir algo estranho:
–La... La... La... La... – Fez uma voz doce e infantil.
Por fim, escutou se o barulho do rádio comunicador sendo estraçalhado, deixando o aterrador barulho de chiado...
–Capitão?! – Falou o mapeador.
–Vamos encontrar aquele Senhor de Castelo... – Disse decidido. – Nem que tenhamos que por essa maldita estrela abaixo!


Continua...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Fanzine Crônicas dos Senhores de Castelo: Os Caçadores Sombrios


Pronunciamento dos líderes do grupo repressão
Informe do Multiverso



Começando transmissão...

–Voltamos com nossa transmissão extraordinária, especialmente para o horário político... Nah! Peguei vocês! Este é um momento muito especial onde o Informe do Multiverso vai falar diretamente com nossos heróis durante o grande almoço dos Senhores de Castelo! – O repórter se dirigiu aos famosos Senhores de Castelo e os cumprimentou. Tirou a luva direita primeiro para ser mais cordial ao apertar lhe a mão e ficou atônito por alguns instantes:
            –Algum problema, meu jovem? – Perguntou o Castelar de casaco verde, interessado em saber sobre o que faziam com aquele aparato todo.
            –Nunca mais vou lavar minha mão! – Olhou para ela como se houvesse encontrado a maior maravilha do multiverso.
            Thagir sorriu pra ele, surpreso com sua conduta e continuou:
            –Posso ajudá-lo em alguma coisa? – Kullat estava sentado ao lado, com um olho no prato e outro no amigo, sentindo algo estranho no ar.
            –Eu pertenço ao Informe do Multiverso. – Disse depois de contemplar um pouco mais a própria mão. – E gostaria que desse uma palavrinha antes do pronunciamento aos Senhores de Castelo espalhados pelo multiverso, com esta câmera, estamos ao vivo para as Ordens de diversos planetas.
            –Qual é o seu nome? – Perguntou olhando para ele e não para a câmera.
            –Meu nome... Meu nome é...
            –Esqueceu seu nome?
            –É... É Fentáziz, senhor!
            –Então Fentáziz Senhor... – Thagir virou-se para o outro lado e cobriu a cabeça com o casaco, virando-se de volta com várias gelatinas na boca. – Eu gostaria de dizer...
            –Hahaha! – Foi inevitável, vários aprendizes começaram a rir incessantemente com a imitação de uma bruxa velha e resmunguenta que todo mundo conhece da cantina.
            –...que se vocês garotos, não tomarem jeito. – Thagir apontava e balançava o dedo fazendo uma voz fina e irritante. – Eu vou jogar todos vocês pro verme boreal!
            –Por Khrommer, Thagir! – Se constrangeu Kullat. – Não acredito que você ainda faz isso!
            –Que é isso amigo? – Respondeu Thagir se colocando de volta ao normal. – Era uma das poucas coisas normais que podíamos fazer aqui na Academia, fora o treinamento árduo. Além disso, minhas filhas adoram a imitação da velha da cantina. Já que há tantos jovens hoje por aqui...
            –Também achei estranho, no nosso tempo não havia tantos jovens. No geral, os aprendizes sempre foram mais adultos e responsáveis...
            –Vai me dizer que se esqueceu dos velhos tempos, hein? – Thagir cutucou o amigo com o cotovelo; este ficou vermelho, perdido com os pensamentos.
            –Você não ouse comentar sobre aquilo!
            –Já faz tanto tempo... – Thagir ficara com ar nostálgico. – O que passou, passou...
            –Thagir...
            Quando todos pararam de rir, o repórter teve de voltar a falar para a câmera e encerrar a entrevista:
            –E estes foram os nossos heróis mais prestigiados...
            Passado algum tempo, as refeições já haviam sido tiradas e todos estavam satisfeitos. N’quamor iria começar o discurso de entrada:
            –Rhu’ia! Senhores de Castelo, aprendizes... – Dizia um homem velho, de roupão branco, cingido por um cordão também branco e que levava uma runa esverdeada no pescoço. – É com muito pesar que anuncio a vocês que pela primeira vez temos um oponente que quer enfrentar diretamente a Ordem dos Senhores de Castelo, sendo nós que sempre estivemos entre o inimigo e suas vítimas, zelando pela paz do multiverso. Mas, pela paz que garantimos a todos os mundos que já conhecemos, estamos reunindo um grupo de repressão que não tardará em impedir que os Caçadores Sombrios prossigam com suas atitudes irracionais. Que, por Nopporn, eles compreendam o nosso desejo de paz!
            O ancião voltou ao seu lugar, o próximo a falar era Thagir que se levantou com energia, pronto para discursar:
            –... – Um silêncio aterrador se fez presente no salão comunal, todos estavam olhando uns para os outros sem entender nada.
            De repente um rumor começou a se levantar em meio ao silêncio:
            –Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn... – E se repetiu, misteriosamente. – Huuunnnhuuunnnhuuunnnnhuuunnn...
            Mais uma vez o silêncio. Um barulho, um “clique”, se fez em frente ao púlpito. Todos olharam e viram alguém alto, em trajes finos e elegantes, de pele azulada e olhos negros de fundo vermelho, fechando o que deveria ser um relógio dourado de bolso depois de olhá-lo fixamente. Ninguém entendia porque não conseguiam falar, até a criatura que aparecera repentinamente quebrar o silêncio:
            –Que falta de educação! Deram uma festa e nem nos convidaram... – Todos continuavam estáticos, sem pronunciar fazer um único chiado. – Pois bem, ei de me anunciar. Sou Inok, o conde vampiro do planeta Morphit – não precisam se preocupar em procurar, ele não está nos registros. Venho aqui para lhes dizer que essa sua brincadeira de herói não irá funcionar conosco, sabemos de sua maior força e a evitaremos a todo custo, esperando o momento certo para atacar. Como também sabemos de suas fraquezas...
            Naquele momento, um par de chifres grandes e robustos começaram a surgir por detrás de Inok, revelando um ser demoníaco, de pele vermelha, cabeça de touro, peito humano, olhos grandes e fechados na ponta dos ombros, pernas peludas de bode e uma cara horrivelmente mal humorada. O estranho é que a criatura era muito maior que Inok, e estava escondida atrás dele:
            –Kabeza! Mostre a eles! – Disse Inok.
            O minotauro vermelho começou a inspirar e expirar, abriu os olhos dos ombros e emitiu uma ressonância maligna que parecia afetar a todos, menos o outro caçador:
            –Que seja feita a vontade do mestre! – Falou o vampiro que começou a correr tão rápido que parecia um borrão no meio do ar, tocando em alguns Senhores de Castelo recém formados pela Academia que sumiam logo em seguida. – Tudo no devido tempo!
            Voltando a posição inicial, o ser chamado Kabeza foi para trás de Inok e sumiu. O vampiro pegou novamente o relógio dourado e depois de abrir e fechá-lo, finalmente os Castelares foram liberados do estado de êxtase proporcionado pelo ser avermelhado. Quando olharam para o lugar onde o vampiro estava, havia sumido:
            –O que foi isso? – Se perguntou Thagir, não sabendo exatamente o que sentira, mas que se lembrava de ter sentido algo muito ruim.
            Ao contrário do que se poderia esperar, não houve tumulto, o efeito dos poderes de Kabeza eram persistentes, mesmo depois dele não estar mais presente. O conselho entrou em reunião repentinamente para tomar novas precauções, pois os caçadores haviam irrompido com as poderosas defesas da ilha de Ev’ve, não se sabendo como nem o porquê, e ainda por cima levaram mais Castelares...
            –Aqui foi Fentáziz, do Informe do Multiverso.

Transmissão encerrada...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Diário de um Alquimista - Lição 2


Percepção

            A magia pairava no ar... Um respiro profundo, ele fecha os olhos: “Sim, estou aqui”, disse En’hain para si mesmo, no meio da Vila dos Gatos. Estava um dia lindo e ele havia ido ao mercadinho. As árvores, sempre tão grandes, deixavam um pouco de luz do sol passar, ainda era cedo. Os nekos da Vila estavam fazendo os seus serviços costumeiros, havia barulho, gente falando umas com as outras e apesar disso, a paz reinava absoluta.
“Hoje estou em paz comigo mesmo”, pensou En’hain sentindo aquela sensação de estar ligado ao universo e do universo responder a ele. Na noite passada, o tempo havia orvalhado as plantas e os vidros das janelas. O ar da manhã estava úmido e a brisa leve balançava as árvores com grande sutileza. O farfalhar das folhas parecia falar e dizer: “A vida é boa”...
Cada passo que En’hain dava estava diferente, era como se ele percebesse a singularidade de cada um, lhe parecendo algo simplesmente perfeito. Sentia as coisas ao redor dele penetrando sua mente, deixando-o extasiado. Os passarinhos, que habitam somente a região da vila por causa de seus jardins, estavam cantando festivamente, provavelmente cortejando a paz do mundo que penetrava um lugar tão longínquo e oculto de todo o resto. O que dava para sentir era incrível, a vida parecia preencher o ambiente, vibrando de sua forma tão singular que geralmente nos passa despercebido.
Um flautista tocava seu instrumento, com melodias doces e notas longas enfeitando de maneira impar aquela ocasião. En’hain tinha aberto seus olhos, agora ele percebia o que sempre esteve lá. O barulho da fonte de água que bate de tempos em tempos para anunciar que ficara cheia e derramar todo o fluido que coletara, batendo na pedra quando voltava à posição original não era só mais um enfeite. Seu timbre se conciliava com os outros tantos que também vibravam: “Basta olhar, En’hain”, lembrava o barman do que o dono do bar falava durante sua última lição de alquimia.
Foi o que En’hain fez, olhou atentamente e se deixou sentir a brisa suave soprar, a temperatura do lugar lhe envolver e seus pensamentos caminharem sozinhos. Ele sentiu que eles o levavam a um lugar diferente, onde podia ver mais árvores, numa montanha coberta por vegetação. As nuvens no alto do céu eram sopradas com força, viajando rápido, deixando uma sensação de que se estaria completo, não faltava nada. “Era como se desse para sentir a vida brotar do chão...”, disse ele, continuando seu relato, “Eu sou apenas um... Tudo isso é bem maior que eu”! De fato, o draconiano sentia que estava voando por toda aquela imensidão, de um lado a outro, recolhendo mais e mais sensações:
–Pena que isso não dura muito... É preciso ter pratica, percebendo uma coisa nova todos os dias para que dure. Ter esperança e calma são essenciais para a percepção, cada novidade por ser dividida em diversos pensamentos novos, compondo uma canção, um poema, uma pintura, uma ideia nova... Ter em mente que esses pensamentos não precisam ser perfeitos nos liberta do preconceito e possibilita que sejamos realmente quem somos; admitindo o que queremos e a forma como queremos. Isso é importante, uma vez que isso nos mostra que somos e aonde queremos chegar. Como se iluminasse um pouco mais o caminho que sempre nos é escuro. – En’hain tentava lembrar-se do que aprendia com os livros, desenvolvendo suas próprias percepções. – Tentar coisas novas ou simplesmente deixar que elas apareçam pode salvar vidas!
O sentimento novo que conhecia ajudava-o a perceber o quanto ele era fechado, que não se deixava levar com a brisa, como as folhas:
–Perceber que o mundo lá fora não está tentando te engolir é um dos melhores remédios que há! – Um cidadão da vila, o dono do mercadinho, lhe acenou naquele momento.
–Bom dia, Senhor En’hain.
–Bom dia. – E ele sorriu com aquele simples gesto.

sábado, 12 de maio de 2012

Desvil's Drink 15# - Sangue

            Era um dia muito chuvoso naquela pequena vila. En’hain, Gurei e Akai tiveram que sair para ver como estava Lady Neko que estava passando alguns dias no templo completamente gripada. Eles não demoraram muito, aquela chuva era uma invocação das ondinas que iniciavam uma evolução para se tornarem provedoras da chuva. O que aconteceu a seguir, diz respeito ao pequeno Akai, pois ele não é apenas um pequeno Neko, ele é marcado pelo vermelho do sangue...
            – Vamos correr! – gritou Gurei tentando não molhar o pelo.
            – Demorou! – retrucou En’hain carregando o pequeno Akai nas costas se esforçando para correr debaixo de tanta água.
            Quando chegaram, En’hain e Akai entraram, a porta se fechou e Gurei ficou do lado de fora:
            – Ei, o que está acontecendo? Abram a porta!
            – Mas, o quê? – En’hain olhou para trás e viu que Akai trancara a porta e passara a chave, impedindo que Gurei entrasse. – Akai, abra a porta.
            – Não! – Akai estava sério, sentia algo de estranho no ar, estava ouriçado.
            – Está tudo bem Akai?
            – Meu nome não é Akai! – disse ele num grito forte e determinado.
            – ...! – En’hain deu um passo para trás, nunca tinha visto seu pequeno amigo daquele jeito. – Akai, você está me assustando...
            – Gente! O que está acontecendo aí dentro? Abram logo a porta, não estou gostando dessa brincadeira. – dizia Gurei do lado de fora que não parava de puxar insistentemente a maçaneta. – Vocês sabiam que está chovendo aqui fora?!
            – Meu nome não é Akai, meu nome não é Akai, meu nome não é Akai...
            – Está bem, vou tentar entender... – En’hain estava com as mãos abertas e espalmadas. – Akai foi o nome que você recebeu aqui, um apelido, se preferir... Qual é o seu verdadeiro nome?
            – Meu nome é Santiago. – respondeu rispidamente.
            – Está bem... Santiago? O que você quer? Não precisava trancar o Gurei lá fora...
            – Não queria interrupções... Eu quero o seu sangue!
            – ...! – En’hain se lembrou das duras palavras que Gurei lhe dissera no dia em que se conheceram: se um neko beber o seu sangue, ele nunca mais irá querer tiver e estará livre para ir embora. – Por quê? Você não é feliz aqui?
            – Já me cansei de você! Eu odeio que fiquem mandando em mim... Me dê o seu sangue!
            En’hain puxou uma cadeira e se sentou, tentou dizer algumas palavras, mas elas entalaram na garganta. Por fim, começou a chorar normalmente. Não com dragão, como humano:
            – Eu sabia... Um dia isso iria acontecer, não é? Você iria embora e eu voltaria a ficar sozinho...
            – ... – o neko encarava-o silenciosamente.
            – Eu não queria acreditar que o que eu estava fazendo era errado, tentei dar o melhor de mim para que você não ficasse triste. Juro que todas aquelas vezes que eu mandei você fazer algo, era pensando no seu bem-estar, num jeito de você também participar de alguma coisa... Me desculpe...
            Akai não deveria estar escutando, colocou as garras de fora e partiu para cima de En’hain, no pulo de um gato. En’hain era mais forte e ágil, conseguindo se desvencilhar segurando as duas mãos de Akai. Pela primeira vez o draconiano se sentiu feliz por ter se tornado tão diferente:
            – Eu queria... Queria que você fosse livre. Mas também queria que você ficasse aqui comigo. Quem está preso a essa maldição sou eu, Santiago!
            – Me dê a droga do seu sangue! – En’hain passou por debaixo dos braços do neko e o abraçou.
            – Me arranha, estripa a minha carne, libera toda a sua raiva e derrame quanto sangue quiser. Eu já não pertenço mais a mim, sou completamente seu...
            Akai começou a arranhar profundamente as costas de En’hain, deixando suas garras completamente vermelhas, banhadas em seu sangue. En’hain chorava de dor, não da que sentia com seus machucados, mas da dor que sentia em perder aquilo que lhe era mais precioso:
            – Lembra-se daquela história que vários clientes do bar contam, a história de La Estrega, a bruxa? Eu também me esqueci de dizer... Eu te amo. – Akai parou, seus olhos permaneciam cheios de ódio. – Pode arrancar... arranque meu coração...
            – ...? – Santiago estava confuso.
            – Não aguentaria pensar em você sofrendo e não poder estar lá para te proteger...
– O que você quer? Se eu arrancar seu coração humano você vai...
– Ficar mais feliz do que viver uma eternidade sem você...
– Se eu ficar... Vou te odiar... Como odeio meu último mestre... Odeio que mandem em mim!
– Então como você não me obedeceu agora a pouco?
– Hoje é o dia da liberdade, hoje o selo não tem efeito... O mesmo dia em que matei meu último mestre...
– Você queria tanto assim ser livre?
– Eu não suporto ser forçado a fazer qualquer coisa e é inevitável que um neko obedeça a seu mestre...
– Não me obedeça...
– ...?! – o neko não entendia aquelas palavras.
– Faça o que quiser... Eu já não pertenço mais a mim... – En’hain largou Akai e caiu no chão, já havia perdido muito sangue. – Amanhã é o aniversário de um ano que você saiu da caixa... Feliz aniversário... – e desmaiou.
Akai se levantou, abriu a porta e encontrou Gurei que estava totalmente ensopado:
– Miau! Finalmente! Pensei que iam me deixar mesmo lá fora a noite toda e...
– Ajude o En’hain... – Santiago estava de cabeça baixa.
– O que aconteceu aqui?! – Gurei olhou para as mãos de Akai e viu que elas estavam vermelhas, olhou para trás dele em seguida e viu En’hain naquele estado. – Santiago, o que você fez?!
– Ajuda ele... Nyaaa... – Akai escorregou escorado pela porta até se ajoelhar, sentia grande tristeza que transbordou em pranto.
...

            En’hain passou aquela noite dormindo depois de ser tratado pelos poderes de cura de Gurei e já não corria risco de sua parte humana, que veio completamente a tona por causa de toda aquela emoção, corromper seu corpo etéreo de metal. Aquilo era um risco que poderia comprometer toda a sua evolução para se tornar um draconiano de verdade. A única forma de matar um dragão é abusando de seus sentimentos e arrancando seu coração.
            Akai permaneceu o tempo todo com En’hain até ele acordar:
            – Santiago... – disse o barman ao perceber a presença do neko ainda do seu lado.
            – Pode me chamar de Akai, se quiser... – o neko estava sentando numa cadeira abraçando os joelhos, sem olhar diretamente para En’hain.
            – Venha cá... por favor. – e estendeu a mão depois de se acomodar melhor na cama.
            – Não quero... Eu machuquei você...
            – Eu não ligo! – gritou em tom meio choroso. – Estou feliz por você ainda estar aqui, então chega disso e venha logo aqui... por favor...
            Akai se sentou na cama como En’hain havia pedido, ainda sem lhe dirigir o olhar. En’hain o abraçou sem pedir permissão:
            – Feliz aniversário, amigo. – Akai olhou para En’hain e deixou sua cabeça pousar em seu ombro.
            – Nyaaa... Obrigado.

            Sorrindo, En'hain completou:

            – Como você cresceu!
 
            Foi isso...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Devil's Drink 14# - O porão


            –Como é que é?! –Indagou En’hain.
            –Vamos ao porão... – Disse Gunshin procurando por algo no meio do chão atrás do balcão.
            –Que porão?! Essa casa, esse bar... tem um porão?!
            –Sim... Achei! – Não dava para ver o que o dono do bar fazia, mas deu para ouvir o barulho de uma chave virando.
            En’hain estava estranhando tudo aquilo e foi para trás do balcão lentamente:
            –Que merda é essa?! – En’hain se deparou com um buraco no chão, não havia porta nenhuma, nem fechadura e muito menos um dispositivo que pudesse esconder uma parede falsa.
            –É uma escada, por quê?
            –...! – Tinha fumaça saindo da cabeça de En’hain que estava com a cara fechada. – Nada não... Você sempre me escondendo alguma coisa. Vai me dizer que aqui também tem um sótão, não é?
            –Não, não tem... Você queria um?
            –Deixa pra lá... O que a gente vai fazer lá embaixo mesmo? – Gunshin pulou dentro do buraco que possuía um desnível e continuo descendo pela escada. – Ei, me espere!
            O porão do bar, se é que se podia dizer isso, era um lugar amplo, cheio de prateleiras com garrafas velhas e esquecidas, provavelmente uma adega. No entanto, haviam mais coisas, haviam caixas, baús, entulho jogado em cima de entulho, “Um verdadeiro ferro velho”, pensou En’hain.
            –En’hain! – Chamou Gunshin. – Venha aqui, tem algumas caixas para você levar lá para cima!
            –Sim! Onde você está? Não estou te vendo! – De repente, um estalo de dedos e algumas lamparinas espalhadas pelas colunas de sustentação acenderam, iluminando aquele vasto local que parecia não ter fim, talvez por nem todas terem acendido. En’hain pegou uma delas e se pôs a andar na direção da voz de Gunshin.
            –Vamos logo! – Gritou Gunshin. – Eu já vou levar metade lá pra cima.
–Dá um tempo, caramba! Não dá pra ver nada direito aqui.
–Pare de ficar com medo! E venha logo pegar essas garrafas de Devil’s Drink! – A voz estava distante e a cabeça de En’hain soltava fumaça...
–Velho desgraçado, nunca me diz o que está realmente fazendo... – Resmungava En’hain baixinho, tentando não ser ouvido pelo dono do bar.
–Pegue as caixas de Devil’s Drink! – Falou alto mais uma vez.
–Que caixas?! – En’hain bateu o pé em alguma coisa. – Ai! Cacete! Ahn... Heheh, achei!
En’hain havia batido justamente nas caixas de garrafas que Gunshin havia mandado procurar. Notou que ao lado estavam marcas de algo que foi movido recentemente:
–Filho da mãe! Que raiva! Já me deixou largado aqui! – En’hain ficou vermelho. – Bom, é o jeito.
Pegou as duas caixas que haviam ali com uma das mãos e com a outro foi apoiando, enquanto segurava a lamparina para não se perder, e foi votando em direção a escada... “Que escada?”, se perguntou, pois não conseguia saber onde aquela escada estava no meio daquela imensidão.
–Fudeu! – Disse preocupado. – Gunshin, onde está você?!
–... – Ninguém respondeu.
–Só me faltava essa! – E continuou andando. – Como é que eu vou fazer pra sair dessa imensidão? Opa! O que é aquilo ali?
En’hain se distraiu com algo grande com um lençol branco por cima, deixou as caixas de lado e foi olhar. Puxou o pano e descobriu um espelho, um pouco maior que ele na qual começou a se ver. Ele se sentiu estranho, num primeiro momento sabia que era ele, mas não se reconhecia. O que ele via era alguém de cabelo prateado, olhos de pupila rasgada verticalmente com fundo vermelho. Os dentes eram apenas caninos, muito salientes, como um tubarão, só que metálicos. Suas unhas, também metálicas, mais pareciam como as garras dos nekos.
–Que porra é essa...
–Nossa que demais! – Disse Gurei admirando o espelho.
–CACETE! Que susto você me deu agora!
–Do que você está falando? Eu acenei pra você pelo espelho.
–Espere aí... – En’hain se virou de volta para o espelho e tomou outro susto. – Eu só consigo me ver!
–Verdade... Eu também só consigo me ver. Nossa! Como eu estou bonito! Caramba! Posso ver meu outro olho! – Gurei admirava uma imagem diferente dele, alguém muito parecido e que não usava tapa-olho.
–Para tudo! – Disse Lady Neko que apareceu do nada. – Gente! Como eu estou magra, linda, maravilhosa e magra, miau!
–Lady Neko, você também?! – Indagou En’hain. – Você disse magra duas vezes? Vê se te enxerga mulher!
En’hain disse aquilo e outras coisas, mas nenhum dos dois ligou para ele. Mas o que mais o preocupava era sua própria imagem: “Porque eles estão gostando do que estão vendo e eu nem consigo me reconhecer?”, pensava ele.
Do lado de fora, Gunshin esperava pacientemente que En’hain e os outros saíssem:
–Ele está demorando demais...
–Nyaaa! – Fez Akai se debruçando por cima do balcão para ver o buraco.
–Vá lá ver o que eles estão fazendo. – Mandou, sem mais nem menos.
–Nyaaa?! – Akai desceu do balcão e se escondeu.
–Quer me perguntar alguma coisa, Akai? – O pequeno voltou a parecer pela frente do balcão, tentando evitar o olhar de Gunshin.
–O Espelho de Narciso está lá embaixo, não é? – Perguntou Akai sem problemas.
–Você já conheceu esse espelho, pequeno? – “Akai parece saber mais do que demonstra”, pensou Gunshin.
–Esse espelho maldito já trouxe muitos problemas à Vila dos Gatos. Por que ele ainda está aqui?
–Você verá... – Disse sorrindo.
–AAAAAAAAAAH! – Alguém gritou lá embaixo.
Akai ficou muito assustado, indo para frente do balcão de novo, Gunshin nem ligou:
–Está feito! – O dono do bar se alegrou.
Lá embaixo, o espelho estava quebrado e En’hain estava agachado em posição fetal, se lamuriando:
–Porque comigo? Porque comigo? – Ele escondia a cabeça atrás dos joelhos enquanto se balançava pra frente e pra trás.
Os dois nekos pareciam estar acordando do transe e perceberem que En’hain havia gritado. Gurei levantou a lamparina para iluminar En’hain melhor e deparou se com aquela cena inusitada:
–Mas o quê? En’hain, você está bem?
–Amore, tudo bem? – Perguntou Lady Neko.
–Minha vida terminou... – Disse En’hain, ainda escondendo o rosto.
–O que aconteceu com o seu cabelo? – Continuou Gurei. – Vamos, levante o rosto para que eu possa ouvir melhor...
En’hain levantou, ainda com muito medo, para que os outros pudessem vê-lo, temendo o que pudessem dizer. Gurei viu e não conseguiu segurar:
–Hahaha... – Gurei dava risadas altas.
–En’hain... Você está tão... diferente!
–Acho que foi aquele maldito espelho...
–Vocês três, venham logo! – Disse Gunshin.
–Sim... – “Velho maldito desgraçado que só me mete em mais encrenca...”, pensava En’hain emburrado.
Os três se dirigiram para fora do porão logo que viram a escada, que aparentemente apareceu assim que Gunshin os chamou. Gurei saiu primeiro, depois Lady Neko e por fim En’hain, que não queria sair de trás do balcão:
–O que você ainda está fazendo aí? – Perguntou Gunshin.
–Eu não vou sair daqui...
–Saia logo, eles precisam ver como você está... – Insistiu Gunshin.
En’hain estava envergonhado e não conseguia tirar as mãos das costas. Gunshin o puxou pelo braço e finalmente todos firam o que estava atormentando En’hain. Conforme ele vira no espelho, ele estava daquele jeito, cabelos prateados, olhos de pupila rasgada com fundo vermelho, seus dentes e garras estavam afiados e eram feitas de metal. Só havia um detalhe que faltava:
–Hahaha... Uma calda?! – Gurei ria muito alto.
–Para de rir seu palhaço!
–Ui! Cuidada com essa boca... tubarão!
–Ninguém merece... – Saia muita fumaça da cabeça de En’hain, uma veia na sua testa estava saltada e mostrava um sorriso forçado com seus novos dentes afiados. – Gunshin, por favor, tem como reverter isso?
–Na verdade... Não. Não foi o espelho que fez isso com você...
–Mas, então... O que significa isso?
–É a sua transformação que continuou. Acho que já deve estar estável agora.
–Fudeu... – Lágrimas metálicas despontavam no canto do olho dele.
Akai ouviu a conversa e finalmente saiu de onde estava escondido, indo subir nas costas de En’hain:
–Nyaaa! – Fez ele feliz, usando a nova cauda de En’hain para subir.
–Ai, cacete! – O draconiano gemeu de dor. – Akai, é você, é?
–Nyaaa! – O pequeno neko estava muito feliz com En’hain, não demonstrando estranhar as novas condições de seu mestre, já que havia ficado muito mais fácil subir em cima dele. O dono do bar ficou olhando para Akai enquanto ele brincava na cabeça de seu barman: “Esse neko”, pensou Gunshin, “é bom que eu tome cuidado com ele”...
–En’hain? – Lembrou Gunshin. – Onde estão as caixas?
–Putz... Sabia que tinha esquecido alguma coisa...
–Hahaha... – Gurei continuo a rir de En’hain, que apontou sua nova cauda pra ele e que abriu em vários espinhos de metal, enquanto olhava para Gurei com olhar assassino. – Vixi!
E todo mundo riu daquela situação...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Recomendação!

Já faz algum tempo, eu comprei um livro procurando por um tipo de ficção que não fosse relacionada a culturas pré-existentes, tinha cansado de ver anjos, espíritos e outros conceitos comuns serem utilizados tão largamente. Queria algo novo... Para a minha surpresa, o livro que havia comprado era nada mais nada menos que de autores brasileiros! E a melhor parte é que eu adorei!

Acreditem, este livro tem uma mapa!

Mais recentemente, comecei a procurar por mais conteúdo e, novamente para a minha surpresa, o segundo livro está prestes a ser lançado!


Este é mais foda, tem DOIS mapas!


Não preciso dizer o quanto eu quero esse livro...
QUERO QUERO QUERO QUERO QUERO QUERO QUERO QUERO QUERO

Crônicas dos Senhores de Castelo possui dois sites:


Este é um site mais promocional, onde você pode fazer o download dos primeiros capítulos de cada livro, além de ter outras informações disponíveis... Precisava ser atualizado mais vezes...



Este por sua vez é um site onde os Senhores de Castelo se reunem, possuem contos fora dos livros, além das novidades acerca dos autores e da produção dos livros... Não é atualizado desde Novembro e estamos em Maio!

Pra compensar a ausência de mais novidades - é díficil ser só escritor nesse Brasil de meu Deus, né gente? - segue aí o link para quem quiser curtir Crônicas dos Senhores de Castelo no facebook... (também tá precisando de mais novidades...)


Para terminar, segue aí o link do Booktrailer do primeiro livro, criado por um fã, ainda não é a perfeição que eu gosto de imaginar, deveria ter aparecido o... Vocês acham que eu vou contar? Leiam o livro!


Literatura brasileira contemporânea, AVANTE!
Wa puma!