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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 30


A Besta – 1ª parte

 

            Nerítico, Pilares e Westem seguiram rumo à Cidade Baixa, mesmo não sabendo como poderiam encontrar Iksio. O galeano pensava positivo, o parceiro não se deixaria vencer por tão pouco. Ele conhecia a arthuano como ninguém, Iksio era capaz, ele sabia disso. Pilares e Nerítico não conversavam. Se entre olhavam, criando uma atmosfera pesada, evitando um ao outro.
Pilares estava constrangido pelo que acontecera com ele e tinha medo que o ultraquímico lhe desse outro sermão. Vez ou outra Pilares cometia um erro por se deixar levar pelos hábitos de ladrão, colocando os dois em apuros. O teslarniano não reclamava, sabia que estava errado e aceitava tudo calado. Tinha respeito pelo parceiro que demonstrava se importar com ele quando a maioria das pessoas o tratava mal, desprezando-o por ele ter sido um ladrão. “É normal, estou acostumado com eles. Só não entendo porque Nerítico está assim... Tenho medo de perguntar”, pensava ele, perdido em pensamentos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 29


A Árvore de Mil Olhos

 

            Dimios estava sozinho. Monaro e seu acampamento inteiro desapareceram juntamente com o resto de todas aquelas pessoas que tanto festejaram. Não havia sinal deles, não havia sinal de que sequer estiveram ali. O Senhor de Castelo caminhou apressadamente por todo o caminho que levava àquela montanha próxima a vila. A região parecia emergir do meio de todo o lixo e entulho que se vira até agora. O instinto do ziniano lhe dizia que deveria voltar, algo forte estava nas entranhas daquela montanha e respirava... Sim! Era isso, respirava profundamente, podia se ouvir aquilo respirando roucamente do topo da montanha.
            O material que ia compondo o caminho era escuro: “Basalto”, pensou Dimios lembrando que aquele material era vulcânico. Continuou no caminho que começava a ficar íngreme e cheio de pedras soltas. “Tudo aqui é difícil”, voltou a pensar, “Não consigo andar neste planeta sem que a possibilidade de cair me acompanhe?”
            Sua concentração estava atenta, sentia o medo persegui-lo por onde quer que fosse. Olhava para um lado e para o outro, a impressão de que havia alguém ali era certa, apesar de nunca haver nada quando ele fixava o olhar. A neblina começava a aumentar. Não se conseguia ver nada além do chão escuro e parcialmente vitrificado. As pontas agudas deixadas pelo tempo trincavam ao seu pisar, produzindo um barulhinho irritante que estava deixando-o ainda mais tenso. O respiro continuava ficando cada vez mais forte.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 28


Orgulho e Preconceito

 

            Separados, eles caminharam por lados diferentes. O acampamento foi desfeito aos poucos, enquanto Dimios e Ferus observavam o trabalho ‘leve’ dos subordinados do açougueiro Monaro. O jovem castelar tentou puxar uma das estacas que ainda permaneciam no chão como uma demonstração de força, exibindo-se para o parceiro. O ato falhou inevitavelmente, constrangendo-o. Um dos serviçais se aproximou e sem o menor esforço arrancou a estaca, derrubando Ferus. Dimios pouco ligou para aquilo:
            – Vamos? – e partiram.
            Ferus recebeu um par de botas que estava sobrando, elas eram grandes demais para os seus pés, mas poderiam ser bem amarradas para ficarem fixas, ou quase isso. Pelo menos ele poderia caminhar em meio à zona de lixo sem se preocupar com machucados. A sensação de usar um calçado depois de tanto tempo descalço era estranha, como se você passasse abruptamente do selvagem para o refinado. Bobagens aparentes que passaram pela mente dele naquele momento.
            Vaik e Elians estavam sendo carregados pelos serviçais enquanto dormiam. Eles não poderiam ficar com os castelares e aproveitaram a carona para descansar. O irmão menor, com pouco sono, observava o irmão mais velho com os olhos apertados, sorrindo para ele. Vaik, como se visse o irmão mesmo de olhos fechados, sorriu de volta. Elians logo adormeceu.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 27


A Ilusão

 

            A aranha perguntou para a árvore:
            – O que devo fazer com a fera que se aproxima, meu senhor?
            – MATE-A!
            – Obedecerei...

...

            – Tem o quê no meio do caminho? – gritou Ferus para Monaro.
            – Dopelgangers... Você é surdo moleque?
            – Pelo perdão da palavra... – ponderou Nerítico. – Não temos ideia do que está falando.
            – Hun... – Monaro fez um ruído com a boca. – Dopelgangers são duplicadores. Criaturas que imitam em tudo o que você faz. Já tive o desprazer de enfrentar uma delas e, se eu não tivesse descoberto uma saída nova por onde escapar, eu teria me matado...
            – Droga! E como eu vou recuperar o meu cilindro? Com ele posso enfrentar qualquer coisa!
            – Não seja ridículo... – disse Dimios, fitando-o com desprezo.
            – Eu já me encontrei com um deles...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 26


A Esperança

 

            Dimios estava fora do acampamento de Monaro, buscando uma resposta para resolver aquele enigma:
            – Eu nunca enfrentei a Irmandade Cósmica antes... Como posso superar um inimigo sem escrúpulos como eles?
            – Comece não desistindo... – Ferus se aproximou, depois de um bom tempo dormindo, estava acordado, bem disposto e morrendo de fome.
            – Vejo que acordou.
            – Minha cabeça tem ficado muito estranha ultimamente...
            – Você saiu porque Vaik estava te olhando?
            – Hoh! – Ferus ficou envergonhado. – Como você sabe?
            – O olhar daquele menino parece percorrer a nossa alma.
            – Realmente... – ele pôs as mãos atrás da cabeça, segurando-a. – Só não entendo porque ele tem que ficar me olhando o tempo todo!
            – ... – Dimios ficou em silêncio, observando a coloração azulada do cabelo do parceiro.
            – Pare de ficar me olhando assim! Até parece o garoto!
            – É justamente o que estou fazendo...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 25


A Queda




            “Guerra em um dia de tempestade vermelha”, não poderia ser um dia pior. “Eu tinha uma vida normal, quero dizer, para um herói eu tinha uma vida normal. Servi a Ordem dos Senhores de Castelo como fiel seguidor, nunca matei ninguém, poupando a vida de vários seres miseráveis que não mereciam sequer existir. Eu tinha a paz dentro de mim e estava feliz com todo o resto. A vida não era fácil, muitas vezes ter como arma apenas uma espada encantada me deixou em sérios apuros – eu não a uso para matar, afinal. Tudo seguia o seu curso. Havia até alguns malfeitores de meu passado que estavam levando uma vida melhor depois que eu os tirei das trevas. E então, numa fatídica tarde, eles chegaram...”
            “Nos céus noturnos de Máscar uma imensa sombra negra irrompeu o silêncio do meu pacífico planeta do primeiro quadrante atacando sem piedade. Acordei com o susto, aquela enorme nave estava justamente sobre mim na subsede da ordem, onde eu tirava um leve cochilo para depois partir para a minha casa. As missões eram estafantes, perigosas, e muito comum ganhar pouco em troca de altos sacrifícios. Meu parceiro, um alquimista, um homem muito inteligente e sério, se chamava Tálio. Agora ele deve estar morto, mas isso não é importante. Eu estava lá, dormindo e meu planeta natal estava sendo tomado de assalto. Procurei minha velha espada e uma bomba foi lançada sobre o castelo, levando tudo pelos ares. Nunca mais eu vi a minha espada...”

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 24


O Exorcismo

 

            Alguém bate na porta. A Dama, a criatura de face dura e imóvel, deixa o bisturi em cima de algum móvel coberto pela penumbra da sala, e abre a porta. Nerítico logo grita:
            – Pilares! Socorro!
            – Shimah! – o assaltante tinha uma voz grossa e distorcida que assustou o ultraquímico que não parava de sangrar pelos cortes finos e precisos. – Senhores de Castelo devem morrer...
            – Pilares! Parceiro! Me ajude!
            O castelar, que ofegava mostrando os dentes, completamente tomado pelo ódio, se aproximou. Nerítico não reconhecia o companheiro:
            – Verme nojento! Como ousa penetrar nos domínios da santa Irmandade Cósmica?! – Pilares puxou uma das facas e a aproximou do coração do castelar, sua mão tremia. – Eu tenho...
            Ele largou a faca. Nerítico percebeu e continuou a chamar pelo amigo:
            – Pilares! Acorda!
            – Cale a boca, maldito! – gritou arfando, quase não conseguindo dizer. – Damah... Shime. (Dama, mate-o)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 23


A Dama e O Guerreiro
 

            Nerítico estava atordoado. Sentia o seu peito nu se resfriar com o frio e se esquentar com a respiração quente de alguém que o rodeava. Seus olhos estavam vendados, não conseguia ver nada. Seu olfato, aguçado por causa da situação prolongada, sentia o cheiro de gordura sendo queimada. Suas mãos estavam presas por uma corrente acima dele que o fazia pender no meio do ar. Seus pés, igualmente amarrados, sentiam algo sob eles e se retraiam para manter distância.
            Alguém lhe tira a venda e o Senhor de Castelo contempla uma mulher (mulher?) estranha. Tinha feições femininas de certo, mas a face era dura, plastificada, inerte, brilhando o reflexo da única chama fraca que iluminava aquela sala. Seus olhos não se movimentavam, estavam fixos para frente. A boca permanecia fechada, nenhum movimento, completamente dura. A coisa, como o ultraquímico a via, levantou a sua frente um bisturi. Por um instante Nerítico pensou ser um daqueles que estavam e seu estojo. Não era. Aquele bisturi era velho, enferrujado e apenas a lâmina estava nova, recentemente afiada. A frase logo foi proferida:
            – O que você vai fazer comigo?! – gritou ele, sentindo o frio do medo lhe tomar por completo a espinha.
            – ... – a criatura não disse uma palavra, apenas passava a lâmina pela pele macia de Nerítico, deslizando suavemente, vertendo muito sangue.
            – Aaaaah!!!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 22


Os Açougueiros

 

            Finalmente, depois do alvoroço que foi segurar o teto da vila subterrânea para que não caísse, a chuva ácida havia parado. Nerítico ouvia o som do silêncio aliviado, apesar de estar preso por mais algum tempo, para que a acidez deixada para trás diminuísse. Darla, feliz por tem encontrado o seu salvador, não continha sua animação. Alguns diriam que ela poderia estar louca, outros que ela estava simplesmente apaixonada pelo ultraquímico. Eles estavam passando todo o tempo juntos. O Senhor de Castelo tentava explicar química para a moça e ela tentava lhe explicar como entedia os elementais – que ele soube ser a forma de vida mágica mais presente no planeta:

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho Do Fim - Capítulo 21


O Enforcado

 

            “Eu não sei por que, mas gosto de estar ao lado do meu irmão. Ele me trata muito bem, me faz sorrir sempre. Mas sinto uma solidão imensa em seu sorriso. Uma escuridão triste e medonha, que parece consumi-lo o tempo todo. Só queria que ele soubesse o quanto eu me importo com ele...”, pensava Elians, olhando para o irmão que ainda dormia depois de horas após a batalha contra Nina.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 20


Vazio

 

            – O que eu faço agora? Isso não estava nos manuais de sobrevivência... – se perguntava Ferus, pensando nos companheiros.
            – Você só precisa fazer o que tem de fazer... – disse Vaik, chegando mais perto.
            – Ah! – gritou ele assustado. – O que você quer comigo?
            – Hahaha... – o garoto sorriu para o jovem castelar. – Nada. São seus pensamentos que estão fluindo pra mim. Você está confuso, não está?
            – ... – Ferus não queria falar, sentia arrepios vindos daquela estranha criança.
            – Se não quiser falar tudo bem. Eu posso ler os seus pensamentos... – Vaik fez um barulhinho com a boca. – Vejo que está preocupado com o seu cilindro.
            Ferus não falou; desvio o olhar para o outro lado, tentando esconder o acerto do garoto.
            – Tem algo no seu cilindro que é importante pra você?
            – Pare com isso! Eu não lhe dei permissão pra ler a minha mente!
            – Hun... – Vaik voltou a sorrir. – Acertei de novo!
            – ...! – Ferus ficou vermelho.
            – Me diga uma coisa... Porque seu cabelo está azul?
            – Não sei...
            – Heh, essa foi direta. Você sempre pinta o cabelo pra esconder essa coloração diferente, não é?
            – ... – Ferus se lembrou da academia. Não sabia como o cabelo havia ficado azul, só sabia que aquilo não era natural. Seus pais, seus familiares, ninguém natural de Newho tinha cabelos tão azuis. Ele só sabia que não queria chamar a atenção por ter cabelos que mudam de cor.
            – Que pena...
            – O quê?
            – Não poderemos mais conversar. Nina chegou...

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 19


Interseção

 
            “Como tudo isso foi acontecer?”, perguntou-se Ferus, confuso com a cena em que se via. Estavam todos os seis Senhores de Castelo enviados ao planeta sem nome na plataforma aérea. Westem segurava Ferus firmemente, prendendo-o na parede por ter desobedecido Dimios. O jovem castelar olhava para todos e seus olhares não eram nada convidativos, pelo contrário, estavam preenchidos de ódio e desprezo:

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 18


Os Brinquedos Malditos

 

            Dimios continuava pelo corredor escuro, os barulhos se intensificavam a cada passo. O chão tremeu, deslocando partes do teto de terra que caiu sobre o castelar que começou a correr, desviando-se habilmente. A inclinação deixava claro que aquilo era profundo e a umidade ia aumentando. Não tardou, Dimios teve que se segurar para não descer de uma vez. O escuro deixava tudo mais difícil, usando somente a Garra de Sartel para iluminar o caminho prejudicava a atenção dele que não sabia exatamente para onde estava indo. Mais a frente se deparou com uma bifurcação. Notou alguns rosnados do lado direito e foi para lá, continuando a descer gradativamente.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 17


A Autoridade



            – O que você quer de nós, jovem incauto que vem de outra terra?! – Começou o pai de Darla com raiva, um homem de aparência decaída que não era nem a sombra do que já fora um dia, falando através da telepatia da filha. Mesmo que quisesse, ele não poderia falar de outro jeito, sua mandíbula fora arrancada por uma das grandes máquinas da Irmandade. No meio da luminosidade fraca, a imagem de sua face com a língua pendente era consternadora. – Se vamos morrer, deixe nos ter o nosso destino!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 16


O Mercado Negro

 

            Ferus trabalhou duro, se virou para conseguir concertar as dezenas de máquinas e terminou uma ou outra. A velha senhora estava contente, depois que viu tantas coisas funcionando de uma só vez, esqueceu se de seus problemas, ajudou o castelar incógnito a encontrar algumas peças aqui e ali, e lhe trazia o máximo de comida que podia – o que já não era muito pra ela.
Passado alguns dias, Dinha falou a Ferus que precisavam ir ao mercado negro, trocar algumas sucatas por comida e talvez conseguir mais alguma coisa pelas máquinas concertadas. O lugar não era longe, era escondido como a maioria das residências do planeta sem nome, sob um tipo de monumento discoidal feito de metal maciço, com um centro esférico que refletia luz, evitando que as pessoas que entram e saem daquele lugar sejam vistas durante o dia. O Senhor de Castelo colocou uma máscara de gás que cobriu todo o seu rosto, Dinha fez o mesmo e partiram para o mercado.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 15


A Escolha

 

            Dimios estava sozinho no quarto, os dois meninos foram dormir em outro. Ele queria dormir, porém, os pensamentos o incomodavam, teria que tomar uma decisão difícil. Em sua mente, as instruções que o pergaminho mágico lhe passou diretamente para sua memória o perturbavam...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 14


Polímero Copiador



            Pilares e Iksio continuavam a serem perseguidos pelo estranho copiador de formas que insistia em deixá-los constrangidos:
            – Onde que você encontrou essa coisa multibiólogo?! – gritou o assaltante já sem paciência ao colega castelar.
            – Desculpe-me meu caro amigo, eu não o encontrei, ele me encontrou! – desculpou-se o arthuano, com sua educação refinada. – Eu estava pensando em lady Liliana de Tianrr e ele me apareceu exatamente na forma dela!
            – Hun... Lady Liliana...
            – O que disse?! – Iksio percebeu a expressão anormal de Pilares, quase perdendo a compostura.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 13


Na Vila Subterrânea


            Nerítico estava preocupado, mesmo sendo um Senhor de Castelo tomar atitudes como aquelas lhe eram muito incomuns, principalmente sentindo o perigo que conhecia tão bem pingando fortemente sobre o teto da vila:
– Um ultraquímico se escondendo de um produto químico! – disse ele para si mesmo, tentando entender a situação em que se colocara.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 12


Nina



            A pequena garota estava de volta ao seu balanço, perdida em pensamentos:
            – Vocês todos serão meus... Cada estrela do céu será minha... Vou roubar todas elas de vocês... Como roubaram meus pais de mim... – seu tom era uma mistura de tristeza e raiva.
            O Thagir vermelho abriu a porta e entrou. Ele sentia algo diferente, a menina não estava animada e seu jeito infantil lembrava o rancor de um adulto. Percebendo que o escravo estava esperando para lhe falar, ela desceu do balanço e sorriu para ele, escondendo as emoções:
            – Veja meu Thagir vermelho, o céu não está lindo hoje? – a menina fechou os olhos, como se desse por satisfeita só com os poucos raios de luminosidade que atravessaram o largo buraco no teto.
            – Mestra Nina, consegui penetrar nos arquivos da Ordem dos Senhores de Castelo...
            – E o que encontrou?
            – Eles vieram buscar a população deste planeta...
            – E o Filho do Fim? – a expressão de Nina relatava dúvida.
            – Eles não vieram por esta missão... Acredito que talvez nem saibam que ele está aqui.
            – Mentira! – a garota gritou, bufando e batendo o pé no chão. – Eles sabem que ele está aqui! Alguém mandou uma mensagem para eles pelo sistema de transmissão codificado, o Informe do Multiverso! Não tem como eles ignorarem a maior lenda que os grandes oráculos contam... A não ser...
            – Creio que sim, mestra. – o Thagir vermelho parecia estar ouvindo seus pensamentos. – Eles querem dar prioridade à população. Elas precisam urgentemente de ajuda e o Filho do Fim é um perigo... Mesmo para eles! Tanto poder em um único ser que mal sabe manipulá-los.
            – Não podemos deixar que eles ponham as mãos nele! Eles não devem matá-lo!
            – Fiquei em dúvida...
            – Eu também...
– Eles realmente seriam capazes de matar uma criança para salvar todo o multiverso?
– Se depender da alma viva da ilha, eu creio que não...
– O que eles pretendem fazer com a criança então?
– Por enquanto fiquemos com a possibilidade deles quererem apenas ficar de olho nele e protegê-lo da Irmandade. Em todo caso, se nós não ficarmos com ele, iremos avisar o Grande Irmão da invasão da Ordem dos Senhores de Castelo...
– Voltaremos a nos encontrar com eles?
– Assim que eu estiver bem disposta... Saia. – o Thagir vermelho fez uma referência e voltou pela porta de onde veio.
Em seus pensamentos, a frase inevitável estalou: “Essa menina é perigosa... Até parece adulta! Espero que o Kullat faça alguma coisa, se ele não conseguir nos tirar das garras dessa menina...”
Ele se sentou de frente a um computador e teclava ruidosamente. Os arquivos dos Senhores de Castelo disponíveis estavam sendo baixados um após o outro. O Thagir vermelho estava lendo as fichas dos castelares e reparou em algo curioso:
– Não creio! Um deles não foi admito na academia! Hahah, essa eu pago pra ver!

...

            Nina havia voltado aos seus pensamentos, mas dessa vez ela estava em sua cama, vestida com um pijama de seda branca e macia. Havia colocado vários lençóis por cima dela para evitar o frio constante. Ela tentava dormir, pensando no que poderia fazer para conseguir o que queria. Em seus sonhos, uma música distorcida tocava, ficando normal de vez em quando mostrando ser uma cantiga de ninar sem letra. A garotinha via um berço branco, minimalista, de material sintético no centro de uma sala branca de iluminação indireta forte que a fazia franzir os olhos:
            – O quarto... – ela disse. – Sempre o mesmo quarto, o mesmo lugar.
            Ela se aproximou do berço, sua intenção era ver o bebê e tirá-lo de lá, porém, algo a impedia de prosseguir e recuava. Ficou ali algum tempo, observando. O bebê começou a chorar, ela tapou os ouvidos tentando evitar que eles estourassem com o barulho ensurdecedor. Ele parou por um instante e começou a falar com ela:
            – Nina, é você?
            – Sim, estou aqui...
            – Você vai vir me buscar?
            – Estou tentando...
            – Você vai vir me buscar?
            – Eu vou...
            – Onde está a minha mãe?
            – Não sei...
            – ... – o diálogo parou.
            – Eu vou te buscar... Você me espera?
            – Quem é você?
            – Sou eu, a Nina...
            – Quem é Nina?
            – Você vai saber quando nos encontrarmos...
            – Como vou saber quem é você?
            – Eu uso vestido vermelho, terei a mesma altura que você...
            – Onde está a minha mãe?
            – ... – Nina estava triste e começou a murmurar a mesma canção de ninar que fazia barulho naquele quarto.
            A sombra dela que estava praticamente apagada com tanta luz, começou a escurecer e a luz do quarto diminuiu. O perfil que se formava na parede não era ela, era de algum animal grande e curvado, com garras e uma bocarra que permanecia aberta. Tinha cabelos desgrenhados, mãos esguias com três dedos cada e a cintura mais fina que o tronco. Algum líquido pegajoso pingava de todo o corpo e, apesar de ser apenas uma sombra, o líquido era vertido também no quarto pela parede. A imagem de Nina escureceu e foi tomada pela escuridão, ao mesmo tempo em que a sombra clareava e se tornava nítida, parando antes que se pudesse ver o rosto da criatura. O murmúrio doce e infantil tornou-se um grunhido irreconhecível. Um homem entrou na sala e começou a atirar na criatura com um pistola de projéteis metálicos que feriram gravemente a criatura da parede, sendo que quem começou a sangrar fora Nina, a sombra do monstro. A criatura gemeu de dor e agonia, praticamente chorando, descendo pela parede até o chão. O homem pega a criança e sai correndo com ela nos braços. Nina e o monstro vêem a criança ser levada e esticam, ambas, as mãos na direção da porta que se fecha. Todas as luzes terminam de se apagar, deixando uma inconsolável solidão no peito da menininha...
...

            Nina acorda. Pela janela ela vê que já está de noite e limpa o rosto das lágrimas que escorreram durante o sonho. Sua raiva foi reacendida e tomou uma decisão. Vestiu seu vestido vermelho, colocou as fitas vermelhas no cabelo dourado e foi falar com o Thagir vermelho. Ele estava cochilando na cadeira em que estava sentado, o computador já havia se desligado com a falta de operação:
            – Meu querido Thagir vermelho, acorde... – ele acordou no susto e, esfregando o rosto, bocejou e se espreguiçou.
            – Já... Mestra? – as olheiras estavam bem marcadas no rosto.
            – Sim... Vamos matar aquele maldito intrometido que está com ele.
            – Sim... – o Thagir vermelho recolocou o casaco, desligou o computador e os dois saíram. Nina estava saltitante...

...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crônicas dos Senhores de Castelo: Fanzine - O Filho do Fim - Capítulo 11


A Cura



            Westem, o bárbaro de Gálion, continuava carregando o pequeno lutador que acidentalmente sentiu na pele o peso do brutamonte, quando este tentou fugir da revolta que os apostadores tiveram ao perceber que o grande lutador deles perdera para alguém tão esquelético. Aquilo também era estranho para o Senhor de Castelo, que também estava crente que quem venceria era o lutador maior.
            Algum tempo depois, quando já não eram mais perseguidos, uma vez que a vitalidade de Westem deixaria qualquer um para trás, eles pararam, Westem precisava ver se estava tudo bem com o jovem, se ele não havia quebrado algum osso. O lugar onde estavam possuía algumas construções esquecidas pela Irmandade e que já estavam bem desmanchadas pelas chuvas ácidas, mas que poderiam esconder os dois caso ainda fossem encontrados.
            O Castelar estava admirado com o corpo tão debilitado do pequeno lutador, vindo de um planeta onde os corpos esculturais, musculosos e cheios de saúde eram sempre presentes, até mesmo nos bebês, Westem realmente encarava aquilo com muita estranheza. Ele chegou até a ficar com medo de lhe ministrar a água mágica da moringa encantada que ganhara do seu parceiro quando visitaram Arthúa, o planeta natal de Iksio, com medo de que suas grandes mãos lhe fizessem algum mal, mesmo porque ela estava debaixo da suit de sobrevivência e ele sabia que passaria mal se a tirasse. Porém, não seria necessário, os olhos com olheiras profundas logo se abririam:
            – ...? ...! – o lutador estava meio tonto, mas percebeu que alguém bem grande estava ao seu lado e, assustado, jogou-o na parede com seus poderes mentais. Ele tentava fugir, rastejando do jeito que estava sem conseguir se mover muito.
            – Hahahah! – ria Westem com vontade, sem se importar por estar preso a parede. – Você é realmente forte! Agora sei por que conseguiu ganhar do outro lutador!
            – ...? – o pequeno olhou ao redor, percebeu onde estava e liberou vagarosamente o desconhecido no chão.
            Westem estava feliz, agora que sabia que o jovem estava bem e se aproximou:
            – Qual é o seu nome, baixinho? Eu me chamo Westem eu sou de... – o castelar se lembrou que não poderia falar que era um Senhor de Castelo e desconversou. – ...de onde eu sou? Heheh, eu caí do céu... E, bem, acho que me esqueci dessa parte...
            – ...? – a expressão que o menor fazia era de dúvida, não entendia o que Westem dizia.
            Então, ele tentou se levantar e sentiu uma pontada no ombro. Estava deslocado e sentia muita dor, cerrando fortemente os olhos. Westem entendeu que aquilo fora causado por ele e se aproximou, querendo se desculpar:
            – Droga! Peço mil desculpas... – o castelar tentava usar a cordialidade do parceiro Iksio, sem muito sucesso por sinal. – ...acho que eu desloquei o seu ombro. Deixe-me ajudá-lo...
            Sem muito jeito, Westem colocou os fortes dedos no ombro do pequeno lutador e, do mesmo jeito que seus irmãos faziam quando ele deslocava o ombro, simplesmente deu um tranco nos ossos, fazendo o jovem sentir muita dor:
            – ...! – apesar da expressão, não saia um único ruído da boca dele.
            – Estranho... Mesmo eu acabo falando um belo palavrão quando meus irmãos faziam isso comigo. – Westem pensou um pouco e concluiu. – Você é mudo?
            – ... – o pequeno balançou a cabeça positivamente, depois do torpor da dor passar e sentir o alívio pelo ombro estar no lugar, movimentando-o para checar.
            – E agora? Como a gente faz? Se o Iksio estivesse aqui ele poderia ler os seus pensamentos...
            O pequeno lutador pareceu estar pensando um pouco e descobriu algo. Pegou na mão de Westem e fechou os olhos. O Senhor de Castelo sentiu um formigamento e percebeu estar vendo algo em sua mente. Eram conhecimentos novos, transmitidos pelo pequeno que fluíam diretamente para os seus pensamentos:
            – Você consegue me ouvir? – disse uma voz.
            – Hoh! Consigo sim! – Westem estava mais admirado ainda com o pequeno.
            – Eu não tenho muita prática com telepatia, é difícil manter as conexões. Vou tentar ser breve e lhe explicar tudo.
            – Continue... Por favor.
            – Esta é a minha história...
            Os pensamentos de Westem mostravam-lhe o mesmo lugar que eles estavam, em algum tempo em que as construções permaneciam inteiras, com a zona de lixo ainda ao redor. As coisas não eram muito diferentes, a mesma angustia que se sentia no presente continuava no passado. A única diferença era a quantidade de pessoas, a população era muito maior, o suficiente para fazer daquele lugar um mercado de trocas – o ouro não valia nada no meio da necessidade: “Por vezes, as naves de carga que voam acima das nuvens trazem grandes quantidades de comida que iriam ser jogadas fora.” – começou. “Antes, era comida de verdade e com o tempo, os restos de comida foram se tornando cada vez mais artificiais, com porções cada vez menores. Agora, a única comida que cai do céu são pílulas, pequenas quantidades de comida em pó que conseguem manter as pessoas em pé por diversos dias, mesmo morrendo de fome. As doenças nas pessoas eram freqüentes. Pessoas que se machucavam com as ferragens inevitavelmente ficavam gangrenadas, diversas mulheres abortavam espontaneamente e as forças de qualquer um se reduziam a nada, com constantes dores por todo o corpo. Foi então que caiu do céu a caixa marcada com o símbolo da Irmandade Cósmica, a ampulheta em distorção. Que os deuses me perdoem por ter compartilhado daquela caixa...”
            – O que aconteceu? – interessou-se Westem. – Algum problema?
            As imagens que o Senhor de Castelo via ficaram escuras, como se estivesse de noite:
            – As pílulas não deixaram mais ninguém morrer... – continuou o lutador.
            – E isso não é bom?
            – Nenhuma doença foi curada... Estou vivo há tanto tempo que já devo ter passado dos duzentos anos...
            – Então, as outras pessoas? – o castelar sentia seu grande coração se apertar.
            – Estão vivas e sofrendo com as dores que começaram há séculos...
            – E eu pensando que ter cento e trinta e quatro anos era uma boa idade... Você é mais velho que eu!
            – ... – o pequeno sentiu a tristeza de sua vida voltar-lhe e desfez a ligação, virando-se para a parede, com as mãos trêmulas no rosto.
            – Me perdoe baixinho... As coisas vão melhorar, eu prometo! – disse Westem, tentando retomar o entusiasmo natural dele.
            – ... – o lutador virou-se de volta para o castelar, com o rosto triste e cabeça baixa.
            Ele voltou a tocar na mão de Westem, reatando a ligação:
            – Venha comigo... – e pôs se a andar no meio daqueles restos de esqueleto urbano.
            – Espere! Você ainda não disse seu nome! – o Senhor de Castelo quase se esqueceu desse detalhe tão importante.
            O pequeno lutador parou e foi tocar-lhe novamente na mão:
            – Meu nome é Esmal...
            – Espere!
            – ...?
            – Esse nome significa pequeno? – o bárbaro sentia que alguma lembrança do lutador havia vazado para sua mente.
            – ... – ele deu de ombros, e continuou a caminhar. Westem foi atrás dele.

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